Expectativa de diplomatas é que pontífice alerte para a perseguição a religiosos católicos na Nicarágua, e trate de plano de paz para a invasão da Rússia na Ucrânia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne a sós nesta quarta-feira, 21, com o papa Francisco. Lula chegou ao Vaticano por volta das 14h15 da Itália (09h15 do Brasil) e foi direto para uma sala particular conversar com o pontífice.
Após o diálogo reservado com Francisco, Lula vai discutir temas diplomáticos também com o arcebispo Edgar Parra Peña, substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé.
Eles devem abordar uma série de temas da agenda global, passando pelas iniciativas de mediação de paz na guerra da Ucrânia, a proteção da Amazônia, combate à pobreza e ações da Igreja Católica no Brasil.
A expectativa de diplomatas é que o papa mencione crises regionais na América Latina e apele ao presidente para ajudar na interlocução com o regime de Daniel Ortega, que tem perseguido membros da igreja na Nicarágua. Um bispo foi condenado a 26 anos de prisão, escolas católicas foram tomadas e rádios fechadas. Ordens de freiras já foram expulsas do país, assim como o núncio apostólico.
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A situação na Nicarágua é descrita como muito preocupante por parte das autoridades católicas. Em perseguição a opositores, o regime de Ortega, que Lula evita criticar, fez uma caçada contra autoridades católicas.
O bispo de Matapalga Rolando Álvarez está em prisão domiciliar. Ele foi condenado a 26 anos de prisão, depois de se recusar a deixar o país com outros sacerdotes e opositores do regime.
Ordens de freiras foram expulsas, como a fundada por Madre Teresa de Calcutá. O papa não tem mais interlocução direta com Ortega. O ditador expulsou o núncio apostólico do país. Agora, o representante do papa mais próximo do país fica na Costa Rica. Ortega lacrou meios de comunicação católicos, acusados de conspirar contra a revolução sandinista, e tomou escolas de orientação católica.
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Embora o governo brasileiro diga repudiar a repressão e a violência contra opositores, a posição é vista como pouco eloquente e hesitante por aliados como os Estados Unidos. O próprio Lula se esquiva de criticar Ortega, de quem foi muito próximo e a quem já defendeu publicamente. Na campanha eleitoral, ele minimizou atos de repressão do regime e a manutenção de Ortega no poder, sem alternância.
Arena internacional
O governo já se pronunciou sobre o caso em fóruns multilaterais, mas sob pressão. Primeiro, o Brasil deixou de aderir a uma declaração conjunta de 50 países que denunciavam os crimes contra a humanidade do regime de Ortega. Depois, em separado, afirmou no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que a situação era de sérias violações e ofereceu acolhida aos dissidentes que perderam a nacionalidade por ordem de Ortega.
O papa tem a questão da Venezuela na sua agenda e já mediou negociações entre regimes autoritários de esquerda na América Latina e potências ocidentais, como fez entre Cuba e os Estados Unidos, em 2014. O pontífice também deve mencionar a situação na ilha comunista. Lula, por sua vez, recentemente classificou as denúncias de violações em Caracas de “narrativa”, e foi criticado até por governantes de esquerda da América Latina.
Antes de embarcar rumo a Roma, Lula recebeu o núncio apostólico, dom Giambattista Diquattro, o embaixador da Santa Sé no País, para uma conversa no Palácio da Alvorada. O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Jaime Spengler.
O encontro durou cerca de uma hora, conforme a Presidência, e eles trataram das relações com o Vaticano e ação social da Igreja no País, que devem voltar à pauta com o papa.
“Quero conversar com o papa sobre a guerra e sobre a desigualdade no mundo”, disse Lula, durante sua nova live semanal. “Eu já tinha feito uma visita a ele antes da pandemia e falamos sobre o combate à fome. É preciso uma consciência mundial ara nos indignarmos contra a fome no mundo”, afirmou o presidente.