Números podem nascer e morrer num único dia, enquanto os eleitores continuarem preservando a mesma opinião
A política sempre reserva um ou mais lugares para o inusitado ou o ilógico. É tal qual um certo “Sobrenatural de Almeida”, mítica personagem criada por Nelson Rodrigues para dar nome às coisas imprevisíveis.
A figura fictícia gerada pelo saudoso escritor brasileiro serviu para explicar o inexplicável de resultados guardados na famosa “caixinha de surpresas” do futebol. E pode servir também para a política. Entretanto, a beleza da imaginação rodrigueana, por mais que retrate algo indiscutível, não prevalece sobre a certeza assentada em bases científicas sólidas.
Estas considerações são alinhadas aqui para abordar questionamentos sobre a credibilidade das pesquisas políticas e eleitorais e dos institutos que as realizam. É, sem dúvida, tremenda responsabilidade fotografar e revelar, entre outros julgamentos da população, sua intenção de voto, o desempenho dos agentes públicos, um palpite para o resultado de uma eleição.
Nas eleições recentes, uma incendiária polêmica polarizou os que tentavam desqualificar as pesquisas e os que defendiam a importância e a legitimidade deste serviço. Este fogo cruzado foi o contexto ideal para nascerem os “patinhos feios” da informação, as Fake News – ou notícias falsas, produzidas basicamente por quem via seus projetos ou interesses prejudicados pelos índices da consulta.
O que falta mesmo aos desavisados, aos de má vontade e aos mal-intencionados é olhar a realidade do mundo e da vida, e entender que, desde sempre, existem fontes de conhecimento absolutamente seguras. A ciência da Matemática, por exemplo.
Matemática é ciência exata. Tão exata e abrangente que vai além das operações de resultados definitivos, como as contas de somar e de subtrair, e chegar ao universo fantástico das probabilidades. Nelas reside uma lógica da Matemática, com números cuja vida útil se resume ao instante de sua apuração e servem para orientar, não para serem tomados como fatos consumados ou imutáveis. São números que podem nascer e morrer num único dia – ou sobreviver, enquanto aqueles que o produziram, os eleitores, continuarem preservando a mesma opinião, a mesma escolha.
Exemplos não faltam. Dois são demolidores e nocauteiam os céticos e negacionistas. Na sucessão presidencial, do começo até o fim da campanha a dianteira de Lula se manteve como demonstravam as pesquisas, indicando ser favorável a ele a tendência de vitória. Em Mato Grosso do Sul, houve descrédito, inclusive de “entendidos”, quando as pesquisas apontavam o triunfo de Eduardo Riedel. As amostragens acertaram, tanto que haveria o segundo turno como no resultado vitorioso do candidato do PSDB.
O Sobrenatural de Almeida é uma bruxa que existe. Mas sua vassoura é de piaçava. Não faz mágica. Mas varre, varre, varre…