Democracia é para os responsáveis, não para os que semeiam a mentira
Até à última segunda-feira (8) um projeto com a intenção de impedir que o uso das redes sociais em Mato Grosso do Sul se efetive como espaço para propagação de mentiras havia recebido cinco pedidos de vista e outras formas de bloqueio. De autoria do deputado estadual Pedro Kemp, do PT, a proposta segue o raciocínio de semelhante PL que estaria em andamento no Congresso Nacional, não fossem as seguidas obstruções.
Não se sabe o motivo e nem se pode afirmar o que se passa na cabeça e no sentimento de cada um dos que se opõem ao projeto. Pode ser simples e equivocada tentativa de garantir o que, em tese, seria mero exercício da livre expressão. Pode ser a prosaica manobra para barrar a visibilidade que teria uma liderança esquerdista no palco de debates.
Mas pode ser também uma ação muito bem engendrada pelas forças conservadoras que se beneficiaram e ainda se beneficiam das fake news – as notícias falsas – para levar adiante seus objetivos políticos e ideológicos. No entanto, cada uma das hipóteses aqui relacionadas configura equívoco dos mais grosseiros, infantis, primários.
A notícia falsa é um produto criminoso de fábricas mentais que geram situações artificiais favoráveis à depreciação, à demonização e à condenação sumária das pessoas, num “tribunal” apodrecido e escuro que é o vão moral e ético dos que se valem desta prática.
Quem é favorável à produção e à disseminação indiscriminada das fake news é, compulsoriamente, contra a responsabilidade, uma condição básica para o livre exercício da expressão e do pensamento. Democracia é para os responsáveis, não para os que semeiam a mentira como forma de atingir ou destruir os contrários. Democracia é para quem, por exemplo, sabe como é fundamental valorizá-la e aprimorá-la, algo que não se consegue erguendo castelos de areia.
Pouco importa se é direita, centro ou esquerda. Se é ateu, agnóstico ou cristão. Se é assim ou assado. O que importa de fato é que os indivíduos, de modo geral, encarem a vida com a grandeza de quem sabe vivê-la num mundo em que as diferenças precisam ser respeitadas e todos tenham plena liberdade de dizer o que pensam sem trair os princípios da verdade.
O medo da verdade é o perfume que inebria os que se sentem livres na escuridão.