Para quem depende da autonomia de voo dos arteiros desastrados a esperança é pouca
A família que durante longos anos teve para espelhar-se exemplos sólidos como o cônsul Assaf Trad, a querida matriarca Terezinha Trad e o nobre e democrata deputado Nelson Trad, chegou a ocupar merecidamente o alto do pódio na vida pública de Mato Grosso do Sul. Um berço dos mais férteis, que gerou a partir dos anos 1960 mandatos diversos na política, de vereador a prefeito, de deputado a senador, sem contar outras investiduras.
Infelizmente, sobretudo para seus eleitores tradicionais, resguardadas as raras exceções, esta família já não representa na política a alternativa de excelência que se poderia desejar de quem assume a responsabilidade de ser interlocutor fiel da sociedade, tradutor dos sentimentos legítimos do povo e agente exemplar na guarda de valores éticos e republicanos. Infelizmente, sim, porque o Estado precisa da solidez e da higidez moral de todas as suas forças representativas.
Depois da morte do deputado federal Nelson Trad, em 2011, ficaram para ocupar o espaço e a herança políticos e eleitorais seus filhos Nelsinho, Fábio e Marquinhos, e posteriormente o neto, Otávio. Desse grupo, dois podem ser citados como condutores de um bonde familiar que trafega na contramão das coisas, do tempo, da sensatez.
Nelsinho construiu uma rica trajetória. Riquíssima, a bem da verdade, a ponto de ganhar robustos apoios eleitorais para construir, de mandato em mandato, um status carreirista na política. De vereador a senador, é hoje um líder praticamente de si mesmo. Sem grupo, fez um partido para si e já não tem controle. Pior: por conta de denúncias e atropelos judiciais, prejuízos financeiros se somam aos políticos e eleitorais.
Marquinhos fez caminhada semelhante à do irmão senador. Pulou da vereança para o legislativo estadual e depois prefeitura, aventurando-se, em seguida, numa empreitada suicida pelo governo estadual. Sem levar em conta as nódoas de sua folha corrida, foi a nocaute nesta aventura. Implodiu a si, ao seu partido, aos amigos e correligionários. O estrago foi tanto que poucas dessas amizades lhe sobraram, insuficiente até para sustentar um possível renascimento.
Quiçá a decadência dos Trad não seja tão brutal e devastadora, que não risque do mapa das possibilidades a sobrevida àqueles que a ela têm direito. Entretanto, para quem depende da autonomia de voo dos arteiros desastrados a esperança é pouca, quase nenhuma. É como advertia a vovó: andorinha só não faz verão. E estas têm asas curtas.