O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) concluiu que esquema de tráfico de drogas orquestrado pelos delegados da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Fernando Araújo da Cruz, de 38 anos, e Rodrigo Blonkowski, de 34 anos, contava até com pagamento de propina pelos próprios delegados a traficantes.
A investigação concluiu que os delegados pagavam propina para que carregamentos de cocaína fossem identificados e depois roubados e revendidos pelo grupo comandado pelos policiais. Quem comprava a cocaína roubada eram narcotraficantes que tinham “parceria” com os delegados.
O relatório do Gaeco traz detalhes do esquema de tráfico de drogas em Corumbá e Ladário, entre os anos de 2018 e 2019, sob o comando dos delegados. Estes, que já respondem a outros processos. Fernando foi condenado por homicídio doloso duplamente qualificado, coação e fraude processual, pelo assassinato do boliviano Alfredo Rengel. Já Rodrigo foi preso por posse de munições irregulares, no ano de 2022.
Ambos os gestores contavam com a ajuda dos investigadores e “braços direitos”, que por sua vez, contatavam traficantes para ajudar no esquema. Todos eles foram denunciados no dia 28 de março de 2023.
Esquema
A investigação de peculato, tráfico de drogas e extorsão apontou que os delegados e investigadores se “validavam das funções para identificar e abordar traficantes de drogas, afim de se apropriarem de valores, armas de fogo, entorpecentes e outros bens que estivessem em poder dos alvos das diligências (…)”, aponta o relatório.
Produtos apreendidos, como drogas e dinheiro, não eram arrolados em boletins de ocorrência e, posteriormente, eram desviados pelos policiais para a casa dos comparsas. Depois, as drogas eram redistribuídas a outros traficantes. Assim, delegados e investigadores ficavam com o “lucro”.
O relatório investigativo também aponta que os delegados pesquisaram os próprios nomes e dos comparsas no sistema restrito do Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional) para saber se estavam sendo investigados, o que atrapalhou a investigação.
Ficha
Os delegados possuem processos ao longo da carreira, um deles, por homicídio. Fernando Araújo da Cruz Junior foi condenado pelo assassinato do boliviano Alfredo Rengel, de 48 anos, ocorrido no dia 23 de fevereiro de 2019, dentro de ambulância a caminho de hospital de Corumbá.
Conforme a apuração feita pela Corregedoria da Polícia Civil, Fernando esfaqueou Alfredo, conhecido como “Ganso”, em evento na Bolívia, e como ele não morreu, foi atrás da ambulância para concretizar o homicídio, a tiros.
Além de ter sido preso por posse de munições irregulares, Rodrigo Blonkowski é investigado no esquema de cobrança de propina para liberar veículos nas delegacias de Ponta Porã. O caso envolve outros policiais da ativa e aposentados.
Eles já estão afastados das funções. No documento do Gaeco, além da condenação de todos os envolvidos, os promotores do Ministério Público pedem a perda da função pública e aposentadoria dos policiais.