Pensar o desenvolvimento econômico sempre foi um desafio para os países sul-americanos, situação que foi agravada com a pandemia de COVID-19 nos últimos três anos, no caso específico do Brasil, o PIB se arrastou e o crescimento médio ficou 1,2% no triênio (gráfico 1).
Com esses indicadores econômicos ruins, por todo país, dentro da plataforma continental sul-americana, esse cenário se complicou ainda mais, já que estando distante dos parques industriais das regiões mais desenvolvidas, os municípios do interior ficam à mercê, invariavelmente, de políticas locais equivocadas aprofundando assim as desigualdades regionais pelo país afora.
Pois então, com a industrialização brasileira em marcha lenta, restou para o agronegócio segurar a crise econômica aguda. Especificamente, o mercado de celulose e papel, que é extremamente competitivo no sistema internacional, os seus diferenciais estão nos projetos das plantas industriais, os arranjos logísticos, proximidades dos portos no litoral, seja no Oceano Pacífico ou Atlântico, e, até as florestas plantadas de clones de eucaliptos protagonizam como vantagens comparativas.
Isso nos faz voltar ao ponto estratégico no desenvolvimento econômico, a localização, e, Mato Grosso do Sul consegue agregar em um bloco regional, intitulado de Costa Leste, um conjunto de municípios que oferecem performance capaz de fugir dos abalos econômicos e políticos críticos que vivenciamos desde 2016.
Mapa 1: projeção de crescimento do maciço florestal em Mato Grosso do Sul
Esse arrojamento está diretamente ligado com a capacidade logística e regional garantidora de ganhos de performance geoeconômica, como temos chamado em outros estudos (Ribeiro-Silva, 2022). E exemplo disso, temos os hexatrens, que são caminhões com seis composições que levam matéria prima – eucaliptos – em estradas vicinais que estão nos campos florestais até a planta produtora de celulose. E essa é atualmente a maior inovação que este ponto do interior do Brasil traz para a logística industrial mundial.
Agora, claro, o fato é que o mercado de celulose colocou no cenário internacional, Ribas do Rio Pardo (Foto 1), uma cidade de ruas sem asfalto, como a plataforma territorial da maior fábrica de celulose em linha contínua do mundo. Seguindo estrategicamente a esteira de eventos do que experienciou Três Lagoas, na década passada, também em Mato Grosso do Sul. Por lá, um alinhamento geoeconômico aprimorado: contexto da economia global como o superciclo de commodities, agentes públicos, corporações e o terceiro setor edificaram as pilastras do que hoje é o polo industrial do Mato Grosso do Sul, epicentro da economia florestal brasileira.
Ribas do Rio Pardo/MS
Em Ribas de Rio Pardo/MS, como num filme repetido as mesmas ruas sem asfalto, guardam em seu quintal, novamente, uma pérola industrial de 20 bilhões de reais hoje intitulada de Projeto Cerrado. Um verdadeiro polo de atração de novos investimentos públicos e privados – que traz trabalhadores de todos os pontos do país – reforçando o papel estratégico de cidades deste Brasil do interior que carrega a crise desde 2015.
Projeto Cerrado – Suzano em Ribas do Rio Pardo/MS
Esse cotidiano alterou a realidade da pacata cidade, revelando um novo Brasil, de economia aquecida, a cidade conta com 1,5% de taxa de desemprego, segundo dados do (RAIS/CAGED, 2021) – e que, em 2024, produzirá 2,5 milhões de toneladas de celulose. Esse é o bastidor que sustenta a superlotação de supermercados com filas abarrotadas, a exemplo de um domingo de 15 janeiro de 2023, distanciando da triste realidade dos centros industriais com pessoas desempregadas em um país detentor de desindustrialização galopante que reduz o peso da indústria a apenas 11% do PIB nacional (IBGE, 2022).
Projetos desta envergadura, exigem capacidade técnica das políticas públicas territoriais (alinhamento institucional – governos Municipal Estadual e Federal); coerência de atuação de agentes públicos e, por último, e mais importante, aprimorar a performance geoeconômica destes lugares que estão no interior do Brasil, reforçando a conexão dos dois Oceanos – Atlântico e Pacífico – como podemos ver no mapa 2 (BID, 2021).
América do Sul rede interoceânica central
No fim, o importante mesmo é saber que a estratégia de desenvolvimento econômico deve potencializar, municípios e províncias no interior da América do Sul. Para tanto, lugares como Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul devem, prioritariamente, tomar a centralidade na discussão do desenho de políticas públicas de saúde, educação e infraestrutura. A esta altura, todos sabemos que esta decisão resulta de um exercício conjunto responsável, técnico e coerente no novo vale da celulose do interior. E qualquer coisa além disso, é puramente confete.