Dentro de três semanas Reinaldo Azambuja (PSDB) passará a faixa de governador para Eduardo Riedel. Amigo, correligionário, colaborador e estrategista, o sucessor eleito vai assumir em 1º de janeiro com absoluta e total confiança de quem o lançou na disputa sucessória: “É responsável, é sério, é honesto, é preparado. Fará um bom governo, melhor que o meu. Vai pegar um Estado enxuto e avançar ainda mais nas conquistas que tivemos até agora”.
A confiança de Azambuja reflete bem mais que o olhar afetuoso e reconhecido de uma relação de amizade que se solidificou na política. A estrada percorrida nestes quase oito anos de dois mandatos ofereceu aos dois desafios gigantescos, sobretudo em função de sucessivos ciclos de recessão e dos impactos devastadores da pandemia em todas as áreas sob responsabilidade do poder público.
Azambuja fecha o mandato com a coroação popular em uma das gestões mais realizadoras da história de Mato Grosso do Sul. Em setores pontuais e conceituais, seu governo tem os melhores indicadores nacionais de desempenho, tanto de políticas públicas pontuais como nas direções conceituais em que alinhou a superação das crises, a inclusão social, a retomada do crescimento e o desenvolvimento sustentável, com obras nos 79 municípios, liderando a geração de empregos e atração de investimentos.
Dedicar-se mais à sua família e às amizades, retomando com maior frequência os programas de lazer – como as pescarias -, estão na agenda futura do governador quando voltar à vida de cidadão comum. Mas não irá sair da política, porque pretende continuar comandando o PSDB. Ele se diz satisfeito e feliz com o que construiu. “Nossa proposta era governar para as pessoas. E foi isto o que fizemos. Com planejamento e responsabilidade, gastamos menos com o governo para investir mais nas pessoas”.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – A um mês de concluir o seu segundo mandato, o que não conseguiu fazer e por qual motivo?
REINALDO AZAMBUJA – Pegamos um Estado quebrado e o elevamos a um patamar de equilíbrio financeiro, com capacidade de investimentos. Passamos de último lugar para a nota máxima da Capag, que é a Capacidade de Pagamento Nota A, conferida pela Secretaria Nacional do Tesouro, que considera três indicadores: endividamento, poupança corrente e índice de liquidez. Tudo isso foi resultado de medidas duras, difíceis, mas necessárias. Estabelecemos parceria sólida com os 79 municípios. Quando fui prefeito de Maracaju não tivemos apoio do Estado e sei o quanto é difícil administrar com poucos recursos. Hoje, todas as cidades têm obras. E agora entrego para o Eduardo Riedel um governo muito melhor do que eu peguei. Acho que fizemos aquilo que propusemos lá no começo, em 2014, com o apoio da equipe, da Assembleia Legislativa, dos prefeitos e dos vereadores.
FCG – Quais as iniciativas governamentais desses quase oito anos que mais o motivaram e talvez o estejam motivando ainda?
RA – Nossa proposta era fazer um governo para as pessoas. E foi o que fizemos. Com planejamento e responsabilidade, gastamos menos com o governo para investir mais nas pessoas. Esta é a nossa motivação, ter um Mato Grosso do Sul que atraia indústrias e gere empregos, que estenda a mão para quem mais precisa, com programas como o Mais Social, o Energia Social e o CNH Social.
FCG – Pontualmente, quais os resultados que mais o animaram, inclusive com reconhecimento de indicadores nacionais?
RA – Mato Grosso do Sul hoje detém, e de longe, os maiores índices de crescimento do PIB no Brasil e o maior investimento per capita. Isto é muito importante, pois o Estado tem a obrigação de devolver, com obras e ações, todo o dinheiro dos impostos que todos pagamos. Outro indicador importante é a Capag A, demonstrando a nossa capacidade de cumprir os compromissos, o que permite que o próximo governador, caso queira, possa contrair empréstimos.
FCG – A conjuntura recessiva, reforçada pelos impactos da pandemia de Covid-19, não impediu que o Estado avançasse em suas expectativas. Qual foi, em resumo, a receita do sucesso?
RA – Responsabilidade. Enfrentamos as crises financeiras que quebraram muitos estados, e a crise do coronavírus, que trouxe prejuízos para todo mundo: dona de casa, trabalhadores, empresários. Mas o pior de tudo foi a morte de 690 mil brasileiros. Tudo isso exigiu responsabilidade e uma gestão austera, presente, consciente dos seus deveres e do seu papel. Tivemos que tomar medidas duras, porém necessárias, tanto na agenda da economia, para não deixar o Estado quebrar, como para preservar vidas, sem interromper as atividades econômicas, criando protocolos por meio do programa Prosseguir. Por muito tempo lideramos a vacinação contra a Covid. E isso nos deu muito orgulho, porque salvamos vidas. Depois, foi a vez de lançar o pacote Retomada MS para apoiar os setores mais atingidos pela crise da Covid-19, com auxílio financeiro e medidas fiscais. Então, o que fizemos foi gerir com responsabilidade e atenção a quem mais precisa.
FCG – O senhor sempre destaca os deputados estaduais como peças decisivas na governabilidade. Isso não é um comportamento natural e até obrigatório na relação entre os poderes?
RA – É obrigação de todo homem público reconhecer a participação e, quando é o caso, a paternidade dos investimentos e iniciativas. Isso nem sempre acontece. Mas aqui em Mato Grosso do Sul tivemos a felicidade de contar não apenas com o apoio da Assembleia Legislativa, mas também da bancada federal, das prefeituras e câmaras municipais. Do mesmo modo que dividimos as responsabilidades, precisamos falar da gratidão a quem faz a boa política de aprovar as medidas necessárias para não deixar o Estado quebrar.
FCG – Realizar um governo municipalista, articulado com os 79 gestores, é uma façanha exclusiva de sua gestão ou historicamente o senhor teve exemplos de outros governadores?
RA – Quando fui prefeito de Maracaju, passei por dois governadores. Nos oito anos que governei, para não dizer que não recebi nada, eu tive dois convênios: um de R$ 80 mil e outro de R$ 60 mil. Um para uma creche e o outro para reformar o Centro da Melhor Idade. E nada mais por parte do governo do Estado. Acho até que eles queriam ajudar, contudo não tinham capacidade de investimento. A situação acabou me ensejando a fazer um governo municipalista de verdade. A gente não governa para partidos. Nós governamos para as pessoas. Os prefeitos dizem que na história de Mato Grosso do Sul isso nunca aconteceu.
FCG – Em cinco eleições, duas estaduais e três municipais, o seu partido e o seu governo foram julgados pela população. Qual sua avaliação sobre o saldo das disputas e dos julgamentos?
RA – Esta de agora foi a terceira eleição seguida para governador em que a população escolhe alguém do PSDB. Eu fui eleito em 2014 e reeleito em 2018. Agora foi o Eduardo Riedel, mesmo sem o partido ter candidato à Presidência da República. Pela primeira vez, desde a redemocratização, o PSDB não teve seu próprio candidato. Tivemos Mario Covas em 1989; Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998; José Serra, em 2002 e 2010; Geraldo Alckmin, em 2006 e 2018; e Aécio Neves, em 2014. A eleição do Eduardo Riedel provou que as nossas políticas públicas deram resultado em todas as áreas. O nosso trabalho foi reconhecido pela população. Ele obteve 808.210 votos, que representam 56,90% dos votos válidos. O PSDB de Mato Grosso do Sul também elegeu três deputados federais e seis estaduais, além dos aliados, como a senadora Tereza Cristina.
FCG – Para fazer de Riedel candidato do PSDB quais as resistências que o senhor enfrentou no partido e o que fez para removê-las, inclusive com a perda de um quadro de primeira grandeza, a deputada Rose Modesto?
RA – Eduardo Riedel foi uma escolha democrática do partido. É claro que eu confio nele. Foi secretário de Governo e Gestão Estratégica e de Infraestrutura, ajudou na construção das nossas políticas públicas e é uma pessoa de diálogo, com serviços prestados também na iniciativa privada. Já a deputada Rose Modesto fez sua escolha. Tinha sido vice-governadora e secretária, entretanto decidiu colocar o seu nome à disposição e seguir outro caminho.
FCG – Por que o senhor indicou Riedel e a quais fatores atribui a sua vitória nas urnas?
RA – A candidatura do Eduardo Riedel foi definida pelo PSDB. As pesquisas internas mostravam que a população queria alguém competente, sério, novo na política, honesto. Este é o Eduardo. A vitória dele vem do compromisso com o municipalismo, do trabalho realizado e da capacidade de diálogo. Mato Grosso do Sul escolheu aquele que tem as melhores qualidades e competências para governar. Não tenho dúvida que ele fará um governo melhor que o meu, até porque vai pegar o Estado redondo, sem nenhuma casca de banana.
FCG – No 2º turno Riedel teve também o voto dos eleitores de outros candidatos e o apoio dos petistas, mesmo apoiando Bolsonaro, adversário de Lula. Qual sua avaliação sobre este cenário?
RA – Isto se deve à capacidade de diálogo do Eduardo Riedel. Um bom gestor precisa construir pontes e não muros.
FCG – O apoio a Bolsonaro pode interferir nas relações entre o governo Riedel e o governo do petista Lula?
RA – Não tenho dúvida que o Eduardo Riedel terá um relacionamento institucional de alto nível com o governo federal. Eu me relacionei bem com a Dilma, o Temer e o Bolsonaro. E o Eduardo vai se relacionar bem com o Governo Lula.
FCG – Especula-se um possível desejo de continuar na política e até voltar ao comando do diretório. O que o senhor vai fazer depois de passar o bastão?
RA – Eu havia dito que daria um tempo do nosso trabalho na vida pública. São 26 anos de estrada na política. Até já me deram vara de pescar, carretilha, caixa de pesca e isca artificial. E eu entendi o recado: vou pescar um pouco, curtir a família, todavia permaneço no comando do PSDB.