O futuro governador disse ainda, ao ser questionado sobre os protestos antidemocráticos pós-segundo turno, que as manifestações populares são legítimas, desde que sem violência e não impeçam o direito de ir e vir das pessoas
Eleito para governar Mato Grosso do Sul pelos próximos quatro anos, o empresário do agronegócio Eduardo Riedel (PSDB), 53, afirmou que seu partido, que encolheu sua bancada na Câmara dos Deputados e perdeu São Paulo depois de 28 anos, terá de definir qual rumo tomará nos próximos anos.
O tucano derrotou no segundo turno o deputado estadual Capitão Contar (PRTB), que havia chegado ao fim do primeiro turno na liderança da disputa. Riedel obteve 808.210 votos, 56,90% dos votos válidos, enquanto Contar conseguiu 612.113, 43,10%, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O futuro governador disse ainda, ao ser questionado sobre os protestos antidemocráticos pós-segundo turno, que as manifestações populares são legítimas, desde que sem violência e não impeçam o direito de ir e vir das pessoas.
Em sua primeira eleição, apostou no desconhecimento dos eleitores e teve entre os cabos eleitorais a senadora eleita Tereza Cristina (PP), ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro (PL), e Simone Tebet (MDB), terceira colocada na disputa à Presidência.
O sr. chegou ao fim do primeiro turno atrás de seu adversário, Capitão Contar, e foi um dos governadores que reverteram a desvantagem no segundo turno. O que houve entre 2 e 30 de outubro?
EDUARDO RIEDEL – Muito trabalho, uma participação muito forte nos meios de comunicação em cima das propostas de trabalho, e ele [Contar] se fez ausente no debate, isso contribuiu para que a população fosse entendendo um pouquinho a proposta de cada um e o compromisso de cada um com o estado.
No debate, o único que ele foi, teve dificuldade de colocar os compromissos dele para o estado, o que ia fazer, deixar de fazer, em relação a políticas públicas. Isso acabou sendo importante na definição da eleição.
A plataforma de trabalho que apresentamos para governar Mato Grosso do Sul, junto com os municípios, influenciou também lideranças políticas municipais a entrarem na campanha.
O PSDB elegeu no segundo turno três governadores, Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e o sr. Mas vai governar menos habitantes, já que perdeu São Paulo, e viu a bancada de deputados diminuir. Qual avaliação que o sr. faz do saldo do PSDB na eleição?
E. R. – A gente está num momento de muita transformação partidária no país, fusões, federações. O PSDB vai ter de encontrar o seu manifesto, a sua linha clara. Entendo que é o momento de o partido parar para fazer essa análise. Ele é considerado de direita por uns, de esquerda por outros, e entendo que o partido tem de encontrar o seu discurso e fazer uma avaliação de que rumo vai tomar. No pós-eleição é um movimento natural e essencial para que as lideranças do partido sentem e conversem a respeito disso, até para decidir o seu caminho.
O sr. se declarou eleitor do presidente Bolsonaro, e quem saiu vitorioso foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como espera que seja sua relação com o futuro presidente? A questão partidária pode atrapalhar?
E. R. – Não acredito, sou hoje governador eleito do estado de Mato Grosso do Sul, a partir de 1º de janeiro exercendo a função, e o presidente Lula é presidente do Brasil. Nós vamos tratar absolutamente de maneira institucional a relação estado e governo federal em cima dos projetos que nós temos prestado, dessa relação que deve existir entre estado e União, do princípio federativo. Independentemente do meu apoio ao presidente Bolsonaro, o presidente Lula ganhou a eleição e será o presidente do Brasil e assim nós vamos conduzir o nosso mandato.
O sr. apoia os atos que passaram a ocorrer no país desde segunda-feira (31)?
E. R. – Toda manifestação é legítima, desde que, e essa é a ressalva que eu faço, não haja violência, não haja degradação patrimonial. O seu direito termina na hora em que começa a invadir o direito alheio. Então é uma manifestação legítima, de questionamento, insatisfação, porém as manifestações não podem ir além da manifestação em si, limitar o direito de ir e vir das pessoas ou criar problemas de abastecimento ou qualquer tipo de violência. A manifestação em si, ok, agora quando extrapola não tem como validar.
Para o sr., qual o principal problema a ser combatido no estado?
E. R. – A gente tem inúmeros desafios pela frente, o estado foi o que no ano passado mais cresceu no Brasil, uma taxa de desemprego que é a terceira menor do país, taxa de pobreza a quarta menor do país. Nós temos que ser o primeiro, diminuição da pobreza do estado, incluir as mais de 150 mil famílias que nós temos numa condição de vulnerabilidade dentro do sistema de cidadania, de um mínimo de dignidade. Esse é um desafio. Não dá para ficar confortável porque está melhor que outros lugares e tem 150 mil famílias passando necessidade.
O agro é um motor muito forte da economia no estado, mas não é único. Quais setores da economia serão foco do sr.?
E. R. – É mais fácil quando você rema a favor da maré, então é muito complicado você “ah, eu acho que tal segmento da economia pode diversificar nossa matriz econômica”. Na verdade você tem que ter um movimento já em andamento da própria economia para você potencializar. Princípio basilar da boa aplicação do recurso público.
A transformação do agro existente no estado por meio da industrialização é um movimento natural que potencializado gera muito resultado para a nossa economia. O turismo é outra ação extremamente importante. E turismo é muito transversal, envolve cultura, esporte, lazer, infraestrutura, quando você potencializa cada uma dessas áreas você gera efeito econômico importante além de valorização das bases, das raízes do estado.
Mato Grosso terá uma ferrovia estadual com a Rumo. O sr. planeja algo nesse sentido para melhorar a logística [para escoar produção] de Mato Grosso do Sul?
E. R. – A gente tem uma ação muito forte com o Paraná, uma nova ferrovia, que vem do Porto de Paranaguá até o centro-sul do estado e encontra a malha oeste da Rumo. A malha sai da divisa do estado, de Três Lagoas e vai até Corumbá, e tem um braço que sai de Campo Grande e vai até Ponta Porã. Essa nova Ferroeste vem de Paranaguá, atravessa o Paraná inteirinho, entra no sul do estado e encontra em T esse braço que liga Campo Grande a Ponta Porã.
Esse eixo é extremamente estratégico para o estado, que é a região mais industrializada, pelas cooperativas do Paraná, é a região de maior fluxo de grãos e de mercadoria e que, encontrando a malha oeste, dá uma competitividade muito grande ao estado. Temos que avançar, tanto o destravamento da relicitação da malha oeste quanto a nova ferrovia.
Qual é o principal modelo para cuidar do Pantanal e preservá-lo?
E. R. – Ambiental a gente não fala só na preservação do bioma, da biodiversidade. Claro que é um eixo central, mas tem dois outros, que são a água e balanço de carbono. O estado se propôs a ser carbono neutro em 2030, muito antes do Brasil, em 2050, até porque nós temos as condições para isso e apresentamos na COP 26.
O Pantanal tem no estado 2 milhões de hectares, um terço do território do estado, e dois terços do bioma Pantanal estão em Mato Grosso do Sul. A gente está fazendo uma estruturação de rodovias não pavimentadas no Pantanal, que vão potencializar muito o turismo, e a própria pecuária de corte, a gente tem um programa de incentivo à pecuária orgânica no Pantanal. Trabalhando muito forte na prevenção à queimada, incêndio, com toda a população pantaneira, desde produtores mais estruturados até população ribeirinha, pescadores, pequenos produtores, e uma estrutura forte de combate a esses incêndios […] É o caminho que nós temos para o Pantanal, um bioma que é 84% preservado e que assim deve ser mantido.