Conheça Letícia Ramos, a ‘Rainha da Maisena’ que viralizou compartilhando curiosidades sobre sua rotina que antes era vivida em segredo
De três em três horas, desde antes de completar três anos de idade, Letícia Ramos precisa tomar uma dose de amido de milho cru com água. Isso porque a jovem, de 31 anos, é diagnosticada com uma doença rara chamada glicogenose. Ao longo de todos esses anos, sua doença foi um segredo até para suas melhores amigas. Mas, agora, após um vídeo curioso sobre sua rotina, Letícia viralizou na internet e passou a ser conhecida como ‘Rainha da Maisena’.
Tudo começou na sua primeira infância, quando sua barriga começou a ficar muito inchada, sua pele esverdeada, sua urina escura e Letícia passou a ter convulsões. Ela, que mora em Uberaba, Minas Gerais, conta que sua família a levava a médicos da região que diziam ser dor de barriga e, até mesmo, cogitaram hepatite.
Até que um dia ela teve uma séria convulsão e seus pais decidiram não sair do hospital até descobrirem o que a menina tinha. Ao fazerem biópsia de seu fígado, descobriram uma deficiência no armazenamento do glicogênio. Ela foi levada a um hospital de São Paulo com urgência e, pela primeira vez, teve contato com a maisena, que deveria ser ingerida de três em três horas, mesmo de madrugada.
Nas idas intensas a São Paulo, tudo foi muito difícil. Seu pai chegou a perder o emprego e dormia dentro do “corsinha 94” da família, como conta Letícia, enquanto sua mãe a acompanhava no quarto do hospital.
“Os médicos achavam que eu não ia sobreviver”, diz a jovem, que na época foi proibida de ingerir qualquer outro alimento, até o leite materno. Quando seu quadro melhorou, pode voltar a comer “alimentos comuns”, mas ainda sem ingerir frituras, gorduras, açúcar e álcool – “que não posso nem chegar perto”, brinca, admitindo já ter experimentado uma única vez, molhando o dedo e passando na língua para matar a curiosidade.
Letícia relembra que sua infância foi muito difícil e que sofria muito na escola. Por vergonha, ela não contava da doença nem para suas professoras. “Eu esperava o intervalo e corria para o banheiro, para comer a maisena escondida”, conta. Como sua barriga começou a desinchar apenas por volta de seus 16 anos, chegaram até a perguntar para sua mãe se ela estava grávida enquanto criança.
Na adolescência, ela perdeu um ano de estudos por conta de um surto de dengue que preocupou seus médicos. Com o tempo, em meio aos desafios, Letícia diz que foi aprendendo a lidar, mas que seguiu levando a doença rara como um segredo. “Eu tinha que ir muito para São Paulo fazer exames, mas nunca contava o real motivo para as pessoas”.