Candidato ao Governo do Estado, ele surfou na onda bolsonarista, e continua nela, pois é a única moeda que tem a oferecer ao eleitor: mas não representa o pensamento liberal
“É a luta do bem contra o mal, por Deus, pátria e família, tá ok?”
Não, não se trata de um discurso do presidente Jair Bolsonaro. Novamente, à exemplo do que ocorreu em 2018, o festival de chavões que inundou a extrema direita brasileira foi adotado por todos os candidatos que se escondem sob a sombra do bolsonarismo na eleição deste ano.
Eleito o deputado estadual mais bem votado para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul há quatro anos, Capitão Contar (PRTB), é um exemplo clássico dos políticos que encontraram na simbiose com o presidente, a única forma de se venderem como boas opções para o eleitor.
A imensa maioria dos que seguiram esta tendência não possuíam nenhum tipo de ação política anterior que justificasse uma candidatura. Em 2018, esta estratégia colou e muita gente – como Contar – foi eleita apenas por se posicionar como “bolsonarista”, adotar uma patente antes do primeiro nome, vestir-se como militar, falar como o presidente e repetir certas frases feitas.
Nas eleições de 2022, no entanto, esta artimanha não cola mais.
Milhões de brasileiros que se posicionam à direita do espectro político já chegaram à conclusão de que ser de direita não significa, obrigatoriamente, adotar políticas extremistas como as propostas pelo bolsonarismo, como ruptura democrática, ataque às instituições, enfraquecimento da laicidade do Estado, entre outras questões. Pelo contrário. O liberalismo compreende bem que estas questões enfraquecem o país no exterior e limitam a chegada de investimentos.
Os “filhotes do bolsonarismo”, como Capitão Contar, foram eleitos em 2018 levando a bandeira da direita, que estava adormecida e emergiu. Mas misturaram os assuntos. Uma coisa é ser de direita, outra é ser bolsonarista. Há no Brasil uma vasta direita responsável, que defende uma economia liberal, o Estado mínimo, a liberdade de expressão. Temas como sexualidade alheia, ataque às urnas, fechamento do Congresso, fanatismo religioso nada têm a ver com os valores de direita.
Nem todos que votaram em Bolsonaro concordavam necessariamente com todas as declarações e bandeiras do candidato. Parte dos eleitores disse em 2018, por exemplo, que o voto em Bolsonaro era muito mais algo contrário a um partido/candidato do que a favor de outro. Ou seja, o voto de alguns eleitores era muito mais antipetista do que bolsonarista, por assim dizer.
Portanto, para muitos especialistas, bolsonaristas não seriam todos os eleitores de direita, mas somente a parte considerada mais radical, os “bolsonaristas raiz”. São aqueles eleitores e políticos que consideram o governo acima do bem e do mal, que não abrem mão de votar no presidente e que dizem “acreditar sempre” nas declarações dele, por mais contrárias que elas sejam aos valores do liberalismo e da democracia.
Capitão Contar é mais um dos “bolsonaristas” de raiz que usam o presidente e suas falas para arrecadar votos entre os homens e mulheres de direita. Em recente debate entre postulantes ao Governo do Estado, ele se jactou de estar posicionado no canto direito do púlpito, “à extrema direita”, disse, ao vivo.
Mas, não, ele não representa a direita clássica, mas sim um extremismo que prejudica a própria ideia de liberalismo.