Ex-prefeito se diz ficha limpa, mas foi funcionário fantasma da Assembleia de MS, onde virou servidor efetivo sem concurso
O ex-prefeito de Campo Grande e candidato ao Governo Marquinhos Trad (PSD) reduz as acusações de crimes sexuais denunciados até o momento por 16 mulheres a adultério, ou a um “gesto falho resolvido em casa”. A Polícia Civil investiga a denúncia desde início de julho deste ano.
Em entrevista ontem (11) ao site Primeira Página e à Morena FM, Trad confirmou que teve relações sexuais com duas das mulheres que o acusam de assédio sexual, importunação, estupro e tentativa de estupro, além de favorecimento à prostituição. Denunciantes relatam que ele propunha sexo em troca de cargos na Prefeitura.
Denunciantes relatam que ele propunha sexo em troca de cargos na Prefeitura
O ex-prefeito esquivou-se das perguntas relacionadas às acusações sexuais, focando somente em sua atuação como prefeito e parlamentar. Durante a entrevista, Trad transmitiu linguagem corporal de nervosismo e tensão, como olhar constantemente para cima e passar a língua nos lábios. Tratou os supostos crimes como de menor de gravidade comparados a desvios éticos.
Também disse acreditar que as acusações a ele imputadas não comprometem seu posicionamento como cristão e cidadão. “Um problema que resolvi dentro da minha casa. Na vida administrativa, nunca faltei com atenção e desonestidade para com minha população”, esquivou-se.
Os entrevistadores – Fabiano Arruda e Lucimar Lescano – insistiram sobre o fato de o ex-prefeito ter confessado as traições à esposa somente depois que as acusações contra ele se tornaram públicas. Marquinhos, novamente, se disse “ficha limpa” e que, administrativamente, não há nada que o incrimine, reforçando que teve apenas “um gesto falho”.
Perguntado “por que o eleitor deveria confiar em um candidato que quebrou a confiança numa relação familiar”, Trad argumentou que se trata somente de adultério, ignorando as demais acusações de 16 mulheres.
Funcionário fantasma
Ao mencionar repetida vezes que é ficha limpa, Marquinhos Trad desconsidera o fato de ele ter sido por quatro anos funcionário fantasma da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, lotado no gabinete do seu pai, o deputado estadual Nelson Trad, em 1986.
Na época, Marquinhos estudava Direito no Rio de Janeiro, período em que adquiriu o sotaque carioca presente até hoje em sua fala. O ex-prefeito também virou servidor efetivo da AL, sem concurso público, cujo acesso é muito disputado por concurseiros em busca da estabilidade do serviço público.
Marquinhos desconsidera o fato de ter sido por 4 anos funcionário fantasma da Assembleia Legislativa, lotado no gabinete do seu pai, o deputado estadual Nelson Trad, em 1986.
Sem ideias
Em relação às propostas, Marquinhos Trad esteve sempre confuso e não conseguiu expor suas ideias como candidato a governador. Questionado se reduzirá a carga tributária, não soube informar se tem estudo nesse sentido para compensar as perdas por conta dessa redução.
Lacônico e nervoso, disse que fará a reforma tributária, mas foi corrigido pelos entrevistadores em razão de o assunto ser de competência exclusiva do Governo federal e do Congresso.
Trad disse que fará a reforma tributária, mas foi corrigido pelos entrevistadores porque o assunto é competência exclusiva do Governo federal e do Congresso
Foi evasivo sobre as propostas para a área de saúde, anunciando que acabará com a regionalização do atendimento, hoje distribuído em quatro polos. Para isso, afirmou, aumentará os repasses aos municípios.
Saúde foi um dos grandes problemas nos cinco anos de Trad em Campo Grande, que renunciou ao cargo de prefeito sem resolver questões fundamentais, como a falta de médicos e de medicamentos, além da precariedade no atendimento primário nas unidades da Capital.
O entrevistado também não explicou por que não conseguiu resolver os problemas no transporte público, em cinco anos de mandato, cuja tarifa é uma das mais caras do país, ao passo que o serviço prestado aos usuários de ônibus é um dos piores.
Fake news
O candidato ao Governo divulgou informação falsa sobre suposta premiação que sua gestão teria recebido. Em 22 de março deste ano, o MS em Brasília desmentiu Marquinhos Trad ao divulgar versão do Ministério da Economia sobre o prêmio (ver aqui).
Na verdade, a prefeitura recebeu certificado por ter atendido os requisitos sobre a operação de sistema que reúne informações sobre os repasses da União. O site ouviu a pasta do ministro Paulo Guedes, que encaminhou nota explicando que “a premiação não tem qualquer relação com gestão financeira e administrativa”.
A gestão de Trad em Campo Grande é reprovada em vários estudos e prévias sobre a situação fiscal e financeira. O MS em Brasília divulgou em 6 de julho dados que colocam a Capital como a pior e Sonora como a melhor gestão entre os 79 municípios (ver aqui).