Vítima relata medo e decidiu depor, mesmo com a possível prescrição do crime, para encorajar outras mulheres
Entre as mulheres que prestaram depoimento na última semana, no inquérito que apura possíveis crimes sexuais atribuídos ao ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), uma funcionária pública afirmou ter sido “encurralada” contra uma parede e “atacada” pelo político, na época em que ele ocupava o cargo de vereador na capital.
Ao tomar conhecimento das primeiras denúncias pela imprensa, ela disse que se encorajou a contar o que enfrentou anos atrás para incentivar outras mulheres, que sofrem ou sofreram com esse tipo de violência, a denunciar os casos. Desde a última terça-feira, pelo menos oito mulheres procuraram as autoridades policiais da capital para denunciar o ex-prefeito, que se lançou candidato ao cargo de governador de Mato Grosso do Sul.
Os primeiros casos registrados no inquérito policial, instaurado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), teriam ocorrido durante o mandato de Marquinhos como prefeito da capital. Ele ficou no cargo entre janeiro de 2017 e abril de 2022. A funcionária pública em questão afirmou que sofreu abuso sexual há mais de 15 anos, em 2005, quando Marquinhos ocupava o cargo de vereador em Campo Grande e exercia a profissão de advogado.
De acordo com o depoimento, ela conseguiu se desvencilhar da investida de Marquinhos porque dominava técnicas de defesa pessoal. A servidora explicou que ficou sozinha na sala com o político porque ele solicitou aos colegas dela, que a acompanhavam, que providenciassem uma impressão de documento em outra sala.
A servidora que disse não ter denunciado o caso à época dos fatos porque teve medo de retaliação. “Seria só eu contra um vereador, que já era forte, que tinha um pai que era forte. Que tinha a família toda que já comandava o Estado. Eu fiquei com medo. […] Tem muita influência e isso acaba pesando. Então, é muito difícil”, desabafou a mulher. Ela ainda enfatizou, no depoimento à polícia, que o comportamento criminoso do político não seria novidade entre as pessoas que trabalham próximas à ele, que Marquinhos “abordava sexualmente suas servidoras, principalmente as comissionadas”, relatou.
A assessoria do ex-prefeito Marquinhos Trad foi procurada pelo jornalismo da Rádio CBN Campo Grande e não quis se pronunciar sobre o caso da servidora. Sobre o inquérito aberto pela DEAM, o ex-prefeito já havia divulgado um comunicado no qual se diz vítima de acusações forjadas por adversários políticos.
CANAIS DE DENÚNCIA E ATENDIMENTO ESPECIALIZADO
A Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul reforçou a informação de que mulheres vítimas de crimes sexuais terão as identidades preservadas e a proteção necessária para garantir a segurança delas e de familiares. Denúncias podem ser feitas diretamente delegada Maíra Pacheco Machado, da Deam (Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher), que preside o caso, pelo telefone 67 99324 4898, este número também é do WhatsApp.