Na justificativa do pedido, o senador Nelsinho Trad afirma que, embora o inquérito esteja em andamento, está cada vez mais evidenciada a relação dos homicídios do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips com o crime organizado na região. “Sabe-se que a economia nessa região é, em grande parte, dominada pelo poder do tráfico de drogas e da exploração ilegal de recursos naturais das terras indígenas, tais como minerais, madeira, pescado e caça”.
Ainda na audiência pública desta quarta-feira, a viúva do indigenista Bruno Araújo, Beatriz Matos, pediu atenção maior à fragilidade da região e denunciou a falta da execução de um plano emergencial de segurança mais de um mês após os assassinatos. Beatriz também cobrou soluções a longo prazo.
“Que o Estado esteja presente de uma maneira, não só através da Força Nacional, mas através de ações de manejo do pirarucu ali para essas populações ribeirinhas, para que elas não sejam cooptadas pelo tráfico. Para que se tenha alternativa daquelas pessoas viverem sem ter que invadir a terra indígena, sem que a opção do crime seja muito mais atrativa e muito mais lucrativa,” disse a antropóloga à comissão.
Beatriz e o líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vala do Javari (Univaja) Jader Marubo denunciaram ainda a desestrutura da Fundação Nacional do índio (Funai).
O senador Nelsinho Trad questionou a Jader Marubo se é possível reverter a situação de sucateamento da fundação e quais medidas seriam mais urgentes na região. Jader Marubo respondeu que é uma estruturação completa, haver um contingente maior de pessoas, e melhorias principalmente no que diz respeito à logística. “Nós não temos uma embarcação de grande porte, ao passo que os criminosos têm. (…) Nem fardamento temos para fazer a identificação que somos Funai, nem fardamento básico temos para os agentes que estão lá na ponta correndo perigo”.
A comissão cobra informações sobre as mortes recentes e o assassinato de outro funcionário da Funai, Maxciel Pereira, em 2019. O crime segue impune. “Nossa próxima reunião está prevista para agosto e, a partir desses esclarecimentos e do material levantado pela comissão até agora, pretendemos apresentar nosso relatório no próximo mês e levar as conclusões desse trabalho para o Parlamento Amazônico também.” O senador é presidente do Parlamaz, colegiado que reúne oito países que integram o território amazônico.