Polícia adota rotina de “upgrades” para cerco a golpistas na internet; PIX e sites de namoro são os principais alvos. Felizmente, no Estado ainda não há casos de sequestro de vítimas para devassa em contas bancárias
Na medida que a tecnologia foi evoluindo e tomando espaço no cotidiano da população, crimes virtuais se tornaram cada vez mais frequentes, tanto em relação a bens patrimoniais quanto à integridade física das pessoas. Para fazer frente ao veloz “aperfeiçoamento” dos crimes, um dos desafios é endurecer a legislação, mas enquanto isso não acontece a Polícia busca novas tecnologias para investigar e combater os criminosos. A corrida para “upgrades” e “updates” de sistemas é constante.
A legislação brasileira prevê reclusão de até oito anos para pessoas consideradas culpadas por crimes cibernéticos. Em 2020, o registro de denúncias anônimas no Brasil contabilizou 156.692 casos, segundo os dados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. Em Mato Grosso do Sul, por conta da pandemia de Covid-19, os crimes de estelionato praticados através da internet praticamente dobraram. O número de ocorrências saltou de 1.781 para 3.529 de 2020 para 2021. Neste ano, de janeiro até 15 de abril, já foram registrados 1.126 casos.
De acordo com o investigador Michel Weiler Neves, especialista em Segurança da Informação na Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), crimes cibernéticos são aqueles que utilizam computadores, redes de computadores ou dispositivos eletrônicos conectados para praticar ações criminosas, que geram danos a indivíduos ou patrimônios, por meio de extorsão de recursos financeiros, estresse emocional ou danos à reputação de vítimas expostas na Internet.
A classificação é ampla e compreende desde ações relacionadas a bullying digital e ataques à reputação em redes sociais até crimes que usam malwares para, por meio de engenharia social ou vulnerabilidades técnicas, provocar danos ou prejuízos financeiros.
Golpes
O investigador afirma que existem alguns tipos de golpes mais comuns e que podem acontecer com mais frequência envolvendo relacionamentos, também chamados de “Catfish” ou “Romance Scams”.
Em alguns destes golpes os autores usam nomes e fotos de militares, sejam aposentados ou não, principalmente de outros países, como dos Estados Unidos.
As vítimas são escolhidas pelo seu perfil das redes sociais. Depois de algum tempo de relacionamento, quando a vítima cede confiança para o suposto namorado, ele acaba criando uma situação em que ela adianta algum dinheiro ou empresta para o namorado na expectativa de vê-lo em breve ou ser ressarcida.
Outro bastante utilizado é o “SexStorsion” – Segundo o especialista , um dos golpes mais comuns envolvendo homens como vítimas é o de “SexStorsion”, onde perfis falsos de mulheres bonitas, que na maioria das vezes alegam ser gaúchas ou catarinenses, estabelecem contato com a vítimas do sexo masculino através das redes sociais.
Com alguns dias ele é levado a uma conversa de teor sexual com troca de fotos e/ou vídeos íntimos, com pedido posterior de dinheiro para evitar a divulgação deste material. O alvo normalmente são homens casados.
Em alguns dos casos, após a troca de fotos/vídeos íntimos, os autores ainda pressionam a vítima psicologicamente dizendo que a mulher que ele se envolveu é menor de idade e incluem uma terceira e uma quarta pessoa alegando ser o pai da menina e um suposto delegado de polícia, que pede indenização para não processar criminalmente a pessoa alvo do crime.
Sobre o PIX, um critério de segurança é a configuração de limites de transferências e pagamentos junto ao banco. “Felizmente, não tem sido comum em Mato Grosso do Sul a prática de sequestro mediante pagamento com PIX”, diz Michel Weiler Neves.
“A Polícia de um modo geral vem capacitando os seus profissionais no combate aos crimes de internet. Da mesma forma, principalmente nos crimes de estelionato, a criminalidade vai adaptando a sua forma de abordagem das vítimas, tentando convencê-las por alguma ‘história cobertura’, tornando-as vulneráveis, fazendo com que ela acredite estar realmente falando com um funcionário de agência bancária, uma empresa idônea ou algum conhecido. Os casos de abordagens dos criminosos, vão desde pesquisas eleitorais até casos em que simulam ser da equipe de segurança de alguma rede social. O importante é a pessoa abordada desconfiar sempre”, finaliza.