Endividada e à beira da insolvência, prefeitura sofre com a falta de dinheiro devido à má-gestão
Ao renunciar ao mandato para concorrer ao cargo de governador do Estado, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), deixou para a sua vice, Adriane Lopes, um presente de grego. Ela vai assumir a gestão afundada em dívidas, com obras paralisadas, bairros abandonados, servidores descontentes e ameaçando greve, índices fiscais negativos e poucos recursos em caixa.
Caso cumpra apenas o que resta do mandato de seu antecessor, Adriane terá que se esforçar muito para que possa, em pouco menos de dois anos, solucionar o caos que se instalou na Capital e salvar a própria pele, já que corre o risco de ter os direitos políticos suspensos e de se tornar inelegível caso não tape até o final do mandato o rombo fiscal que herda agora por conta da incapacidade administrativa de Marquinhos Trad e do ex-secretário de Finanças Pedro Pedrossian Neto.
Marquinhos Trad se manteve no cargo até o último minuto do segundo tempo. A estratégia foi a de continuar fazendo política para conquistar votos por meio da intermináveis promessas de investimentos que ele próprio já sabe que jamais deverão sair do papel e do discurso. Caberá a Adriane Lopes a responsabilidade humanamente – e financeiramente – impossível de transformar em realidade as promessas do ex-prefeito.
Isso porque não há dinheiro em caixa, a prefeitura vive hoje de refis, emendas parlamentares e da ajuda do governo do Estado e repasses da União. A arrecadação própria está totalmente comprometida e os índices fiscais não apontam qualquer possibilidade de o município conseguir dinheiro novo para tornar reais os arroubos e as promessas fantasiosas de Marquinhos Trad.
Caos financeiro
A gestão Trad foi reprovada pelo Banco Central nos exercícios de 2019 e 2020. Além disso, Campo Grande caiu 6 pontos no ranking do Centro de Liderança Pública (CLP) e ficou na 52ª colocação entre os 79 municípios de MS no Índice Firjan de Gestão Fiscal da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Mais: a Capital perdeu ao menos R$ 20 milhões ao mês em repasses de ICMS do governo do Estado por conta de sua queda no ranking da arrecadação regional. Além disso, o endividamento da prefeitura já alcançou 110,76% e os salários dos servidores comprometem mais de 60% das receitas, segundo o Tesouro Nacional.
Inelegível
Para se ter uma ideia da má-gestão do ex-prefeito Marquinhos Trad e de seu ex-secretário de Receita Pedro Pedrossian Neto, o Tesouro Nacional mostra ainda que enquanto Campo Grande já comprometeu sua capacidade de endividamento em 110,76%, os outros quatro maiores municípios de Mato Grosso do Sul estão em situação bem mais confortável: Dourados (20,97%), Três Lagoas (41,97%), Corumbá (42,45%) e Ponta Porã (38,02%).
Se até o final deste ano o rombo fiscal não for coberto, na condição de prefeita Adriane Lopes vai responder por crime de responsabilidade, podendo perder o mandato e ainda ter os direitos políticos cassados, tornando-se inelegível para qualquer cargo na administração pública.
Caos nos bairros
Outro desafio de Adriane Lopes será o de resgatar a confiança das pessoas que vivem nos bairros mais distantes do centro da cidade, onde imperam o caos e o abandono, principalmente por conta de promessas não cumpridas por Trad e em função das fortes chuvas que castigam a cidade nas últimas semanas. Devidamente maquiado, o centro não apresenta muitos problemas, a não ser as enchentes, que continuam, apesar das promessas de Trad de extinguí-las.
Ao fim e ao cabo, apesar de grande parte da população reprovar a sua gestão, Marquinhos Trad deixa no ar a dúvida se de fato é o sonho de ser governador que o impeliu a renunciar ao mandato de prefeito. Por conta do caos em que se encontram as contas públicas, bem pior do que na gestão da dupla Alcides Bernal e Gilmar Olarte, segue forte a impressão de que a renúncia se deu para que Trad tivesse uma desculpa para fugir às suas responsabilidades como prefeito. O tempo dirá.