Quem vê a sua atuação com coragem e disciplina pode apostar que se trata do 3º Sargento Vila, da Polícia do Exército, mas somado a um conteúdo e didática que pode nos levar a crer ser um professor. O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Adelaido Vila, traz essas passagens no seu currículo. Contudo, não parou por aí, até segue estudando e já tem especializações na área do Comércio Varejista. Nem no pior momento do século para o setor, o da pandemia, se esquivou. Tomou a dianteira quando a CDL de Campo Grande elaborou, com a ajuda de cientistas, os protocolos de segurança utilizados na Capital. Aponta, no entanto, que a prefeitura deixa muito a desejar e manifesta que os lojistas estão órfãos do poder público municipal. Alega que em muitas questões decidem que todo mundo tem que calçar 38, mesmo que tenha o pé 42. Deixando muita gente desconfortável. É exatamente esse o sentimento do setor que mais gera empregos. Adelaido não descarta disputar as eleições de outubro, mas aguarda um chamado, como bom soldado, do setor varejista.
FOLHA DE CAMPO GRANDE– Quando você assumiu a CDL em 2018, qual era sua prioridade?
ADELAIDO VILA- Primeiro, foi a segurança. Já vinha a um bom tempo discutindo este tema com a sociedade e na CDL considero que tivemos muitos avanços nesta pauta. Fizemos várias reuniões com órgãos de segurança e ficou decidido que de início os empresários iriam utilizar o grupo de WhatsApp para troca de informações e tomada de decisões sobre as ações. Foi solicitado às forças de segurança estadual e municipal o reforço do policiamento na região central. Hoje a situação é bem melhor, com o programa Cidadão Integrado.
FCG- Do que se trata esse ‘Cidadão Integrado’ e por que ele faz a diferença?
AV- O Cidadão Integrado da CDL CG continua mostrando sua eficiência e contribuindo com a segurança pública na capital. Já instalamos mais de 300 câmeras e temos muita satisfação em saber que o programa tem feito a diferença para a nossa sociedade. E esses resultados provam que estamos no caminho certo. Queremos poder sempre contribuir para a melhoria em nossa cidade. A eficiência do Cidadão Integrado CDL somado com o trabalho dos nossos parceiros nos motiva a expandir cada vez mais, implantando câmeras em muitos outros pontos de Campo Grande.
FCG- O custo do programa é acessível para os lojistas?
AV- Sim, bastante acessível. Custa cerca de R$ 30 por mês. No aplicativo do celular todos podem ter acesso às câmeras em tempo real. Além disso, disponibilizamos nossa plataforma para a Polícia Militar e Guarda Civil. Eles podem usar quando quiser. Também já oferecemos o serviço para a prefeitura municipal, mas o pessoal de lá coloca um monte de restrições que eu sinceramente não entendo. Uma câmera de última geração, movida a energia solar com chip da CDL custa R$ 6 mil. Quando ouço notícias de cotação de câmeras para a prefeitura os valores são astronômicos, 10 câmeras ao custo de R$ 1 milhão. Não entendo.
FCG- Quanto a Covid-19 afetou os lojistas de Campo Grande?
AV- Cerca de 20% do comércio quebrou desde o início da pandemia. Antes tínhamos 122 mil CNPJs ativos, mas agora temos cerca de 100 mil. Nós vemos o cenário não como uma melhora, mas sim como uma recuperação passageira do setor varejista. O setor que mais vem sofrendo em Campo Grande, além dos bares e restaurantes, são os setores de vendas de sapatos, maquiagens e roupas.
FCG- Além da pandemia, quais outros fatores que atrapalham a vida do comércio varejista?
AV- Várias questões. Muitas poderiam ser resolvidas com vontade e competência política. Uma política salarial justa para os servidores municipais nos ajudaria muito. Os servidores públicos gastam, em média, mais no varejo e quando eles não são valorizados somos prejudicados. Somos responsáveis por 60% da mão de obra empregada no MS e também por 60% do movimento econômico de todo o Estado. Merecemos mais respeito, merecemos participar mais das decisões que impactam nosso setor.
FCG- Em quais decisões os lojistas podem contribuir?
AV- Na pandemia contratamos um biomédico para entender como poderíamos funcionar. Os protocolos de segurança foram desenvolvidos pelos lojistas. Fomos o setor que mais evoluiu no período, levamos o estudo e a prefeitura adotou. Nossa função é lutar pelos direitos dos varejistas, mas acho que o poder público que deveria ter contratado os cientistas para desenvolver os protocolos. Não podíamos ficar esperando, fomos lá é fizemos. Outras questão são os corredores de ônibus da Rui Barbosa e essa revitalização da 14 de julho. Duas ruas que ligavam Campo Grande de norte a sul estão ficando sem vida para os comerciantes, que sequer foram ouvidos sobre os projetos. Eles tomam as decisões e os lojistas seguram o arrocho.
FCG- O que mais tem incomodado os comerciantes varejistas?
AV- Sem dúvida nenhuma as obras na área central. Obras no jeito de falar… É um tal de tapa buraco, esgoto entupido, vazamento de água de um cano. Tudo isso para tirar a paciência dos lojistas. Não é possível em 2022 as máquinas chegarem na frente da sua loja e interditarem a quadra, sem sequer um aviso prévio. Vemos que não tem controle da prefeitura, estamos a mercê das empreiteiras que fazem o que querem. Abrem buraco, fecham ruas, vão embora e depois de dois ou três dias voltam como se nada tivesse acontecido. Total falta de comando. O varejo é órfão do prefeito Marquinhos Trad.
FCG- O que a CDL projeta para o futuro?
AV- Estamos tentando participar da cadeia de ações da Rota Biocêanica. Do jeito que está vai favorecer apenas o agronegócio. Sou a favor dos produtores rurais, mas o projeto pode ser benéfico para toda a sociedade. Por exemplo, 80% dos produtos do nosso varejo são comprados em São Paulo e produzidos na China. Nós poderíamos distribuir estes produtos aqui quando a Rota estiver ativa. Mas, para isso, precisamos do poder público, atrair indústrias, trazer empresas com obrigação de contratar a mão de obra daqui. Contudo, é preciso investimento em cursos técnicos, o que realmente essa gestão não parece ter competência para fazer. Vemos que 5 anos se passaram e nada à respeito.
FCG- E para o futuro do presidente da CDL? Qual a projeção?
AV- Sou um soldado do setor varejista. Represento os sentimentos da classe. Sempre lutei e busquei melhorar o entendimento para a ajudar os lojistas. Já fui sondado pra disputar o cargo de deputado federal, mas preciso ser convocado. Estou no PSB, mas ainda não é certo se permaneço. Acho que nos meados de abril já terei uma definição.