Para aliados, ministra da Agricultura pode reduzir rejeição ao presidente no eleitorado feminino e agrega setores do agronegócio
Ministros do Centrão pressionam o presidente Jair Bolsonaro (PL) a escolher uma mulher como candidata a vice em sua chapa. O nome que a ala política do governo tenta emplacar é o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, hoje no DEM, mas prestes a se filiar ao Progressistas, partido do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Pesquisas da pré-campanha indicam o machismo como um dos pontos fracos de Bolsonaro, que perde cada vez mais votos no eleitorado feminino.
A avaliação de aliados do governo é a de que Tereza Cristina, ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, pode ajudar a quebrar resistências ao presidente. No núcleo duro do Centrão, bolsonaristas argumentam ainda que, além de auxiliar na tarefa de atrair votos de mulheres, a entrada da ministra na chapa da reeleição também agregaria setores do agronegócio.
O “agro” sempre foi visto uma das principais bases de apoio de Bolsonaro, mas hoje enfrenta divisões em relação ao governo. Tanto que, no ano passado, sete entidades da agroindústria assinaram manifesto em defesa da democracia e do respeito às instituições.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também deflagrou uma ofensiva para conquistar apoio do setor. Nas conversas para ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice, Lula propôs que ele ocupe o Ministério da Agricultura, caso a chapa seja vitoriosa em outubro.
O Estadão apurou que Bolsonaro confia em Tereza Cristina, mas prefere fazer dobradinha com o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, com quem se sente mais à vontade. No Palácio do Planalto, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, também chegou a se movimentar pela vaga. Em conversas reservadas, o presidente disse a aliados que a escolha de um militar como ele para vice é uma espécie de “seguro” contra processos de impeachment.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é um dos que tentam convencer o pai a fazer composição com Tereza Cristina, e não com um militar. Trata-se do único nome de mulher sendo discutido no momento, no Planalto. Não há um plano B.
Além da defesa de uma mulher para vice, ministros de Bolsonaro têm dito a ele que a opção por um nome de outro partido traria mais votos e o ajudaria a construir uma aliança mais ampla.
Disputa
Desde aquela época, o Progressistas de Ciro Nogueira e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), tenta fazer o vice da chapa. A movimentação causou “ciúmes” no Republicanos, ligado à Igreja Universal, que defende um evangélico para vice. No ano passado, após meses de espera por uma sabatina no Senado, o ministro André Mendonça – definido por Bolsonaro como “terrivelmente evangélico” – conseguiu tomar posse no Supremo Tribunal Federal.
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, já teve o nome citado para uma dobradinha com o presidente. Agora, porém, está inclinada a disputar o Senado por São Paulo, atendendo a pedido do próprio Bolsonaro, em composição com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que vai concorrer ao Bandeirantes.
Em público, Tereza Cristina tem dito que prefere concorrer ao Senado. “A ministra já declarou que será pré-candidata ao Senado por seu Estado (MS) e deverá se desincompatibilizar até início de abril, conforme prazo regulamentar”, afirmou, por meio de nota, sua assessoria.
Antes de se candidatar à Câmara dos Deputados, Tereza Cristina foi cotada para vice na chapa de Alckmin, que, em 2018, concorreu ao Palácio do Planalto pelo PSDB. À época, ela se animou com o projeto, mas a vice do então tucano acabou sendo a senadora do PP Ana Amélia.