Já ensina e adverte um sábio e atualíssimo aforismo popularizado por políticos locais: pato novo não nada em água funda. Infelizmente, alguns fazem ouvidos moucos ao objetivo, embora metafórico, aconselhamento. Às vezes, o egocentrismo é tão acendrado e perverso que atropela o bom-senso e contraria leis elementares da educação, fulanizando princípios que deveriam ser preservados e aprimorados.
O ano de 2021 está chegando ao fim em Campo Grande com algumas demonstrações de desapego a critérios que valorizariam a atividade política. Os patos novos não são muitos. Entretanto, os que existem estão soltos e dispostos a nadar em quaisquer águas. Isso é coisa para quem, além de saber nadar, precisa ser dotado de audácia, coragem e atrevimento, sem prescindir de outros valores, aqueles que engrandecem a pessoa.
Um clássico exemplo vem sendo dado pelo prefeito Marquinhos Trad. Agarrado ao legítimo desejo de escalar degraus mais altos na vida pública e ascender às alturas da Governadoria do Estado, o gestor da Capital decidiu ser o tutor, fiador e padrinho de si mesmo. Autosuficiente ao extremo, crendo que fará vitorioso seu voo solo sem precisar de ninguém, sobretudo de quem lhe vem dando nutrição e água para saciar a fome e a sede de obras de sua gestão.
Provavelmente com a visão conceitual e política comprometida pelos delírios da picada azul – ou acreditando que tem nas mãos as tábuas das leis, regras e contextos do jogo político-eleitoral -, o prefeito começa a fazer do projeto de candidatura ao governo uma obsessão. Não repara sequer nos gargalos de sua gestão, denunciados no dia-a-dia de uma capital que segue sofrendo com os críticos serviços de transporte coletivo e saúde, entre outros.
Não se tem notícia de quantos ególatras prosperaram na busca do poder neste Mato Grosso do Sul de 79 municípios e centenas de origens, credos, raças e orientações. É um universo complexo, dos mais amplos e exigentes. Um povo que aprendeu a cobrar as dívidas e faz das urnas seu balcão. Um povo que até se dispõe a socorrer aquele pato novo que tenta nadar em águas profundas. Mas esta disposição tem seu limite quando é sentimento coletivo experimentado nas urnas, um lugar aonde o bloco do “eu sozinho” quase sempre se afoga.