Não basta somente o poder público, pantaneiros e ONGs erguerem suas vozes e ações em defesa do Pantanal. Pelas dimensões físicas e ambientais desse bioma, é fundamental que toda a sociedade se empenhe. Alguns elementos da vida desse e de outros biomas já entraram nas relações de espécies extintas, enquanto outras estão em processo de extinção. Esta conta tão dolorosa e inaceitável inclui mamíferos, répteis, aves, vegetais e reservas hídricas.
Há que ser buscada uma resposta vigorosa, taxativa das autoridades. E que a própria sociedade descruze os braços e colabore, pare de demonizar aleatoriamente as organizações não-governamentais (ONGs) que atuam verdadeira e corajosamente, muitas vezes de maneira anônima, na defesa e na preservação da vida.
Em meio à destruição que ocorre em todo território brasileiro, algumas luzes são acesas nessa escuridão preservacionista. E Mato Grosso do Sul se faz presente, acendendo mais uma chama de esperança. Há poucos dias o governo estadual lançou, em Corumbá, o Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais no Pantanal. O plano vai traçar as estratégias, preparar equipes e fazer o reconhecimento das áreas das operações por terra, água e ar.
Segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), coronel Hugo Djan Leite, a ideia é ambiciosa. De início, conta com investimentos de R$ 56 milhões, que o governo de Reinaldo Azambuja está desembolsando. E o CBM vai disponibilizar para as operações, se for necessário, 700 dos seus 1.500 militares.
A medida pode ser vista por um ângulo pontual: a proximidade do período crítico dos focos de calor e incêndios na região, que no ano passado provocaram danos ambientais de valor incalculável, desfigurando grandes extensões terrestres e aquáticas atingidas pelas chamas. O Corpo de Bombeiros reforçará a guarda: anunciou que vai estruturar o 3º Grupamento de Corumbá com mais viaturas e lanchas. Cinco equipes serão deslocadas para as localidades de Rio Negro, Alto Paraguai, Paiaguás e Nhecolândia.
Segundo a ONG Ecoa, uma das mais antigas e respeitadas do Estado, algumas causas dessa tragédia pantaneira precisam ser consideradas pelas autoridades. Nas queimadas, por exemplo, a organização cita os efeitos da impunidade, que incentiva a ação dos desmatadores e incendiários, citando que 98% dos incêndios no Pantanal são provocados por ações humanas.
Elencam-se também o desmatamento, a sucessão de anos com poucas chuvas, o vento seco e a baixa umidade do ar na Bacia do Alto Paraguai e rios com nível muito baixo.
Que a louvável iniciativa do Executivo estadual seja replicada pelos demais poderes, em todos os níveis. O Legislativo e o Judiciário têm sua cota de responsabilidade e não podem se omitir. É a vida – a vida de todos nós – que está entrando nesse brete. Quando o fogo mata uma onça pintada, toda uma cadeia animal é impactada. E esse impacto não envolve somente a cadeia alimentar da selva, porque os humanos estão numa de suas pontas. A vida é nossa. Vamos permitir que ela vire torradinha?