Nada mais corriqueiro e necessário neste Brasil de meu Deus do que botar a boca no trombone. Reclamar. Chiar. Protestar. Indignar-se. E vem a pergunta chata: adianta? Não tem adiantado muito, mas é melhor a resistência e o ataque verbal que ações menos civilizadas – e quando se trata de tarifa de energia elétrica e de reajustes de seus valores, não são poucas as pessoas que têm vontade de ir além dos limites.
A razão desse revoltado comentário é a mesma, recorrente, repetida por incontáveis vezes desde que os serviços de abastecimento de energia passaram para o controle da iniciativa privada: mais um reajuste das já abusivas tarifas praticadas pelas concessionárias (que em Mato Grosso do Sul responde pelo nome de Energisa).
No início da semana passada, diante de uma ensurdecedora chiadeira, a “madrinha” protetora dessas empresas, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), decidiu adiar os reajustes tarifários, enquanto avalia saídas para conter uma tendência de forte aumento de custos para os consumidores.
Houve, portanto, uma suspensão. Porém, o aumento na conta de luz está vindo pela enésima vez. A pandemia está chegando aos 350 mil óbitos e o desemprego já castiga mais de 13 milhões de vidas brasileiras. E isso é algo capaz de comover a Energisa? Qual nada! São os lucros que tocam o coração de pedra dos dirigentes da Aneel, do governo federal e, evidentemente, da concessionária, que se acostumou a faturar vultosos lucros, pouco importando se suas contas mensais estejam esfolando os consumidores.
E vejam só a cara de pau: segundo a Aneel, o aumento na grade tarifária está ligado ao processo de recuperação econômica das distribuidoras. É uma beleza! Para o assalariado, o desempregado, o adoecido e o massacrado pelas crises e pela pandemia não é preciso ter um processo de recuperação econômica. Ou paga a luz ou então fica no escuro logo que acabar a trégua.
Além dos valores exorbitantes, o sangramento das economias populares por parte da Energisa é reforçado pela figura grotesca e truculenta da Cosip (Contribuição com o Serviço de Iluminação Pública), mecanismo malandro para superfaturar as contas.
Cobra-se por um serviço que não existe em grande parte dos bairros, cujos moradores pagam por uma iluminação que inexiste. A desculpa da Energisa e da prefeitura municipal, que compartilha dessa receita, é: quem mora no bairro tem o benefício da iluminação quando vai às ruas e logradouros públicos. Se a pessoa não sai de casa então ela paga por imaginar que tem um poste com luminárias na sua esquina. Tarifa do serviço fantasma, não é Energia?
Cadê as autoridades que poderiam pôr um fim nesse abuso? Foram tragadas pela escuridão?