Diante de um cenário no qual todas as pesquisas registram curvas para baixo em popularidade e aprovação de governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) parece que resolveu apelar. Depois de substituir o boquirroto Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores – e por outro diplomata que também reza pela cartilha do olavismo -, o capitão vingou-se do crescente isolamento social e do aumento dos índices de rejeição promovendo mudanças no Ministério da Defesa e em outras áreas do governo. As mudanças mais recentes começaram com a saída do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, seguidor do negacionismo olavista que causou inúmeros danos ao Brasil na condução da política externa. Foi substituído pelo embaixador Carlos França, ex-chefe do Cerimonial do Palácio do Planalto, indicado por Eduardo Bolsonaro, o que desagradou setores do Centrão e vários senadores. Na segunda-feira (29), a demissão do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa revelou o desapreço com que Bolsonaro trata os militares que se tornam auxiliares de seu governo.
PROTESTO DAS FORÇAS ARMADAS
Após a demissão do ministro, os três comandantes das Forças Armadas – Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) – colocaram seus cargos à disposição do novo titular da Defesa, o general Braga Netto. Em carta, o ex-ministro sinalizou os motivos de sua saída na forma como agradeceu ao presidente, mas fez questão de frisar que preservou as Forças Armadas como instituições de Estado.
Segundo Afonso Benites, correspondente do ‘El País’, no dia em que o Brasil atingiu novo recorde de mortos por Covid-19, com 3.780 óbitos em 24 horas, o Governo Jair Bolsonaro demonstrou mais uma vez que as estratégias para frear o avanço do coronavírus não estão em suas prioridades. Escreveu Benites: “O Palácio do Planalto dedicou seu tempo a amplificar a crise político-militar provocada pelo próprio presidente, com a demissão do ministro da Defesa, seguida da saída em protesto dos três comandantes das Forças Armadas, Marinha, Exército e Aeronáutica”.
“Foi algo inédito desde a redemocratização”, continuou Benites. “Acuado pelo Congresso e de olho em sua base mais radical, o objetivo do presidente, ao longo de todo dia, foi enviar a mensagem de que estava enquadrando as forças militares, e não sendo um alvo de protesto do alto escalão castrense”. Em seguida, salientou: “As especulações sobre um possível autogolpe, uma ruptura institucional ou a decretação de estado de sítio, ou de defesa, era tamanho, que precisou o vice-presidente, o general Hamilton Mourão, vir a público para arrefecer os ânimos”.
DIVERSIONISMO
O bolsonarismo operou quatro estratégias diversionistas. Primeiro, difundindo a versão de que Bolsonaro foi severo demitindo os três comandantes militares. Porém, na realidade foram eles quem entregaram seus cargos por discordarem da demissão do ministro Fernando Azevedo e Silva. Depois, os fiéis do capitão armaram estratégias para furar a fila de promoção no Exército e encontrar um novo comandante.
O grupo de frente de Bolsonaro ainda usou um de seus fiéis batedores na Câmara dos Deputados, o major Vitor Hugo (PSL-GO), na tentativa de por em votação um projeto de lei ampliando os poderes do presidente durante a pandemia. Por fim, abriram o compasso para que o novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, assinasse a “ordem do dia” exaltando o golpe militar de 1964 para ser lido nos quartéis de todo o país na quarta-feira (31).