Com a decisão do ministro Edson Fachin de anular todas as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato, o jogo da sucessão presidencial de 2022 começa a ganhar novos contornos. Se até aqui as pesquisas demonstravam claro favoritismo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), beneficiado com a ausência do petista – que até à semana passada estava com os direitos políticos suspensos -, agora, reabilitado no direito de votar e ser votado, Lula pode ser o grande fator de equilíbrio no páreo caso tenha sua candidatura confirmada pelo PT.
Bolsonaro, que já trabalha no projeto pela reeleição, minimiza a importância da candidatura de Lula. Depois de alfinetar Fachin, insinuando uma forte ligação com o PT, o presidente reagiu assim à hipótese da candidatura de Lula: “O povo brasileiro não quer um candidato desse”. Porém, aliados e amigos mais próximos sabem que nesse jogo há outros nomes querendo chegar como terceira via, entre os quais os do ex-ministro Sérgio Moro (sem partido), do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), do ex-deputado Ciro Gomes (PDT) e do apresentador global Luciano Huck.
Para que Lula não seja uma ameaça visceral, Bolsonaro estaria torcendo pela condenação de Moro, cuja imparcialidade no julgamento de Lula está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e há uma tendência de que seja condenado. Em tese, a situação melhoraria para Bolsonaro. Sem Moro, ele polarizaria a disputa com o petista e não correria o risco de perder votos do centro, onde se abrigam muitos simpatizantes do ex-juiz da Lava Jato.
EFEITO DOMINÓ
A volta de Lula ao rol dos presidenciáveis mexeu com os demais prováveis concorrentes. Dória admitiu que o cenário passa a ter uma nova configuração. “A medida do Supremo traz um impacto muito grande. Mas é preciso saber se Lula tem disposição. Se ele confirmar que será candidato, então o cenário da sucessão muda”, enfatizou. Disse ainda que outras forças precisam ter “capacidade de dialogar, formular um programa econômico e social para o Brasil e escolher um candidato que seja competitivo”. A seu ver, uma polarização entre Lula e Bolsonaro “favorece os extremistas que destroem o País”.
Ciro Gomes aplaudiu a anulação das condenações, mas destacou que não vê no petista um caminho para a superação das crises política, econômica e sanitária. Salientou que não enxerga no “passado lulopetista” a saída para a construção de um novo projeto político. O pedetista avalia que, além de Lula, a decisão de Fachin favoreceu Bolsonaro e Moro. O retorno de Lula – acrescentou Ciro – pode ter como efeito o aumento da polarização e a repetição do radicalismo que marcou a disputa presidencial de 2018.
Luciano Huck foi ferino: “No Brasil, o futuro é duvidoso; o passado, incerto. Na democracia, a Corte Suprema dá a última palavra na Justiça. É respeitar a decisão do STF e refletir com equilíbrio sobre o momento e o que vem pela frente. Mas uma coisa é fato: figurinha repetida não completa álbum”, disparou no Twitter sobre a possível candidatura de Lula. Já Guilherme Boulos (Psol) e Marina Silva (Rede) têm um olhar de interesse na formação de uma frente anti-bolsonarista, embora ainda não antecipem se apoiariam Lula como líder e candidato desse movimento.