Para quen não sabe, a Rússia no século 18 estava à beira do desastre, com uma guerra feroz contra a Suécia e seu progresso cultural e intelectual não conseguindo acompanhar o ritmo da Europa Ocidental. No entanto, na sátira histórica de The Great (A Grande), o imperador Pedro III (Nicholas Hoult) parece imperturbável. Cercado pelos confortos da realeza e pelo apoio de conselheiros ansiosos por agradar, ele trata a guerra como um incômodo e governar como uma brincadeira, por isso notícias de inquietação eram constantes.
Mas quando sua nova esposa, Catarina (Elle Fanning), não aprova seu estilo de vida, ele a rejeita como uma réplica casual das anteriores: “É um inferno se casar.”
Ao longo de The Great, o tom satírico de comédia negra captura como a política “teatral” e cega pode se tornar infantil em meio a uma crise. A negação da verdade de Peter e de seus aliados – uma verdade profundamente angustiante, envolvendo centenas de milhares de vidas perdidas – assemelha-se à rejeição de conselhos médicos do governo Donald Trump. A ignorância abre caminho para a felicidade preciosa de Pedro III. Para Pedro, governar é um espetáculo, não um dever.
A corte de Pedro pode ser um exagero da política russa da vida real no século 18, mas a estratégia tola de governo do personagem em face do desastre reflete a de Trump lá nos E.U.A. Ambos dependem do apelo da negação e da ignorância.
Mas, quando Catarina chega à Rússia vinda da Prússia, e ela vê o tribunal insano que governa o país, então ela planeja um golpe enquanto finge apoiar seu marido.
Mas quanto mais tempo ela passa como imperatriz, mais ela se conforma e se deleita com o mundo ao seu redor. Ela se envolve em disputas mesquinhas com as mulheres na corte, aceita presentes de Peter (incluindo um encontro com o filósofo francês Voltaire, a quem ela admira) e se apaixona pelo homem que Peter oferece para ser seu amante sexual. Um dia, ela até tem a chance de concluir seu golpe antes do planejado, mas no último minuto não consegue prosseguir.
The Great mostra ironicamente como a retórica desempenha um papel em fazer com que as pessoas evitem fatos desagradáveis: quando finalmente Peter reconhece a guerra, ele fala do conflito como uma chance de promover a glória da Rússia e ganhar o direito de se gabar se a Rússia vencer porém, a realidade foi terrível para Suécia e para a Rússia que perdeu 180.000 homens em uma guerra sem objetivo.
Em ambos os casos, Pedro III e Trump, o nacionalismo supera os perigos da crise. O poder da Rússia deveria prevalecer a todo custo mesmo com vidas perdidas – e as mortes por Covid-19 só aumentavam no goverso Trump.
The Great com todo o seu humor ultrajante, reconhece o fascínio perturbador de tal pensamento. Fanning e Hoult, cujas performances ajustadas transformam o relacionamento arranjado de Peter e Catherine em um embate de inimigos, focando em como o poder e o conforto que vem com isso podia corromper os dois. Ao final da temporada, nós, o público torcemos por Catarina não porque ela seja mais bem intencionada, e sim, porque ela reconhece seus privilégios e luta contra suas deficiências de governar, avaliando as circunstâncias que moldam sua visão de mundo.
5 pipocas!
Disponível no Starz que pode ser assinado em conjunto na Amazon Prime Video.