É de um laboratório chinês uma das primeiras vacinas testadas e aprovadas para fazer a imunização contra a Covid-19. O governador João Dória Jr, de São Paulo, adiantou-se, fez as tratativas para o governo paulista garantir de imediato a aquisição de milhões de doses. Mas o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pôs em dúvida a origem do produto – a China, sendo um país comunista, não seria confiável para o mandatário brasileiro, ideologicamente de direita e ferrenho anticomunista.
Dória e Bolsonaro são os principais presidenciáveis para as eleições de 2022. E esse imbróglio no caso da vacina é o freio que a ambição política e o interesse eleitoral colocam à frente da urgência que têm os brasileiros com a vida a cada dia mais ameaçada pela pandemia da Covid-19. Dória quer fazer da sua “agilidade” na aquisição e na aplicação das vacinas um item de forte apelo popular para alavancar sua candidatura presidencial.
Bolsonaro, por sua vez, joga com o argumento de que não se precipitará comprando vacinas sem o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Culpas e razões de lado, a verdade é que o Brasil está atrasado na luta contra o coronavírus. É deficiente sua política pública por causa das atitudes negacionistas do presidente e da passividade do seu ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello.
Por essas e outras a nação brasileira teme pelo pior. Enquanto outros países já estão adiantados – como a Rússia, que já começou a vacinar seu povo -, o Brasil anda lentamente, sabendo que quanto maior for a demora mais pessoas serão infectadas e os obituários terão um acréscimo de vítimas sem precedentes na história. Nesta quarta-feira (9) o País chegou a 178,9 mil óbitos, mais de 6,7 milhões de casos confirmados e 5,9 milhões de pacientes recuperados.
RANHURAS
Ao que quase tudo indica, Bolsonaro e Dória não pretendem criar um armistício para buscarem, juntos, a melhor solução no combate à Covid-19. Prova disso foram os ânimos na reunião de terça-feira passada entre o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e os governadores. Mesmo em transmissão online, houve momentos de tensão envolvendo Dória Jr e Pazuello.
O governador cobrou uma posição do ministro sobre a compra da Coronavac, vacina que está sendo desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista. Pazuello afirmou que não descarta a compra, mas que o negócio só será fechado após o registro do produto pela Anvisa e se houver demanda. Disse que o preço do produto também será considerado. O ministro estima que a Anvisa deve levar até 60 dias para a análise dos imunizantes.
Dória não gostou da resposta, nem da abordagem de Pazuello sobre o interesse do governo federal em outras vacinas e tampouco das alegações sobre a demora da Anvisa para dar seu parecer. O governador disse então que o Planalto cobra o registro da Coronavac, mas investiu mais de R$ 1,2 bilhão no imunizante desenvolvido pela Universidade Oxford com o laboratório AstraZeneca, além de cerca de R$ 800 milhões para ingressar no consórcio Covax Facility. A vacina de Oxford e os imunizantes que integram o consórcio não têm registro na Anvisa.
DOSES
Todos os brasileiros que desejarem serão imunizados contra a Covid-19. O ministro Eduardo Pazuello reiterou que está assegurado o acesso a 300 milhões de doses. “O Ministério acompanha a evolução de imunizantes para a Covid-19 em passos acelerados e com total responsabilidade. O Brasil possui, atualmente, mais de 300 milhões de doses de vacinas garantidas por meio dos acordos internacionais e nacionais, esperando a aprovação por parte da Anvisa”, explicou.