Seria cômico, se não fosse uma realidade trágica e revoltante: mais uma vez o fim de ano chega trazendo um presente amargo da Energisa para os consumidores de Mato Grosso do Sul, com novo reajuste das tarifas de energia elétrica. Autorizada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e apoiada pelo presidente Jair Bolsonaro, a alta começou a vigorar nesta terça-feira (1º), com a bandeira vermelha acionada no patamar 2 durante todo o mês.
Com isso, será cobrado R$ 6,24 a mais cada 100 kWh consumidos. Esta é a primeira vez que a Aneel decidiu acionar uma bandeira tarifária isenta de cobrança desde o início da pandemia de Covid-19. Em maio, a reguladora havia decidido manter a bandeira verde (sem cobrança extra) acionada até 31 de dezembro, mas a queda no nível de armazenamento nos reservatórios das hidrelétricas e a retomada do consumo de energia levaram à revisão desta decisão.
Bolsonaro afirma que o país corre risco de apagões e, por isso, é preciso aumentar a taxa da conta de luz. O presidente cita ainda os “níveis baixíssimos” das represas. Essas colocações ele escreveu em resposta a um comentário nas suas redes sociais a um usuário que questionou o alto preço nas contas de energia: “A conta de luz vai aumentar. Obrigado PR”, publicou, e em seguida respondeu ao próprio comentário: “As represas estão (em) níveis baixíssimos. Se nada fizermos poderemos ter apagões. O período de chuvas, que deveriam começar em outubro, ainda não veio. Iniciamos também campanha contra o desperdício”.
MINA DE OURO
Nesta ciranda criminosa e indecente que esfola o povo, a concessionária abocanha com facilidade lucros estratosféricos. Dona única e absoluta da gestão dos serviços de abastecimento, a Energisa enche os seus cofres como se estivesse garimpando uma mina abarrotada de ouro na superfície do asfalto. Para ter uma ideia, no terceiro trimestre deste ano a empresa teve um lucro líquido recorde de R$ 921,7 milhões, com significativo avanço de 1.609,6% em relação a igual período do ano anterior.
A Energisa credita esses resultados a um “crescimento expressivo do mercado nos segmentos residencial e rural, à disciplina na gestão de custos e à alocação eficiente de capital”. Segundo a empresa, o consumo na classe residencial avançou 5,9% no período, enquanto no segmento rural cresceu 9,7%. A classe industrial, muito impactada pelos efeitos da pandemia, apurou alta de 4,1% no trimestre. No entanto, a Energisa nada comenta sobre o que ganha com as sucessivas e abusivas tarifas e as taxas extras, como a de religação.