A lista de filmes originais da Disney Plus ainda não é tão extensa nesse início, ontem, 17 de Novembro de 2020. Ainda não há previsão de estréia da Marvel ou Star Wars – então nessa nova opção de streamingo só está disponível um punhado de adaptações de livros pré-adolescentes como A Extraordinária Garota Chamada Estrela e Timmy Fiasco, a aventura no gelo com Togo e uma nova versão de A Dama e O vagabundo (Lady and the Tramp).
Como o remake live-action não interessou para as grandes franquias de cinema, que preferem épicos de super-heróis, a Disney Plus se prontificou a abrigar o filme no streaming como seu novo lar. A Dama e O vagabundo é o primeiro a fazer parte dessa experiência. Não é uma tradução fiel do clássico animado, porém um regresso nostálgico à era de ouro dos anos 1920.
Este remake não é pra ser como O Rei Leão, gerado por computador no ano passado. Aqui temos cães da vida real, que se sentam, balançam as patas e atacam sob comando. Nem é preciso dizer que eles são adoráveis, e pra melhorar, a pós-produção e os responsáveis pelo CGI usaram seus melhores recursos para dar a impressão de que eles estão falando e se emocionando como os humanos.
A Dama e O vagabundo mantém o esqueleto de seu clássico. Um casal amável, Jim Querido (Thomas Mann) e Darling (Kiersey Clemons), mimam sem parar sua cocker spaniel inglês Dama (Tessa Thompson). Ela tem sua própria poltrona, com sua própria almofada bordada, e o casal até a deixa dormir em sua cama sem questionar. Só que para a surpresa da cachorrinha, seu status pomposo foi repentinamente anulado pela chegada de uma bebê.
– Quando o bebê entra, o cachorro sai.
Foi o que alertou Vagabundo (Justin Theroux), em quem Dama, encontra uma estranha companhia: um cão de rua que se orgulha de seu estilo de vida de solteiro.
Um dia, o casal viaja e pede para uma tia, Sarah (Yvette Nicole Brown), que cuide da cadela. Mas ela odeia cães, e depois de uma grande confusão, ela a deixa fugir.
É um remake refrescantemente humilde, que nos presenteia com um passeio pela cidade de Savannah, no sul dos EUA, do ponto de vista de um cão (o original de 55 se passava no oeste). O diretor Charlie Bean, recém-chegado na indústria com o filme Lego Ninjago, sabe que uma ótima performance dos intérpretes pode dar vida a um filme, e Tessa Thompson e Justin Theroux foram perfeitamente escolhidos para esse fim – eles não apenas têm química natural, como também encontram pequenas maneiras de renovar seus personagens para o século 21. A Dama de Thompson é mais teimosa do que sua antecessora e com uma pitada de ignorância mimada; já o Vagabundo de Theroux traz uma aspereza a lá Harrison Ford ao papel. Pense nele como um Han Solo de quatro patas – cínico e cansado. Além deles, Ashley Jensen e Sam Elliott são confiantemente charmosos como Jaqueline, uma terrier escocês, e Faro, um sabujo velhinho.
É importante citar também a preocupação com o politicamente correto da nova versão. A Canção do Gato Siamês, famosa do desenho de 55 foi retirada depois de se tornar alvo de polêmica por ser considerada um retrato problemático da cultura asiática, já que os felinos foram retratados com os olhos muito puxados e com dificuldades de pronúncia. A suposta xenofobia foi substituída por uma cena onde dois gatos Devon rex invadem a casa de Darling e derrubam enfeites de valor inestimável das prateleiras. A direção também excluiu do roteiro insinuações das diferenças de classe social entre cada um dos animais. Em vez disso, revelou-se uma postura pró-adoção de animais que, nos lembra que todo cachorro tem valor e merece amor. Isso é melhor resumido no modo como o filme lida com a cena do espaguete, onde um garçom (Arturo Castro) e o dono de um restaurante (F Murray Abraham), correm para colocar uma toalha numa mesa, com velas e o menu para dois cães vadios e ainda cantam Bella Notte. É um momento genuinamente doce, vinculado ao cuidado com todas as criaturas.
Há algo de acolhedor nesta nova versão de A Dama e O vagabundo.
5 pipocas!
Disponível no Disney Plus.