O Brasil vivencia a mais insólita e atípica disputa eleitoral de sua história republicana. O coronavírus entrou nesse capítulo para tirar dele o ingrediente mais saboroso e mais importante, que é o envolvimento presencial da sociedade na dinâmica vital da democracia.
Sem as tradicionais concentrações e manifestações de rua; sem os acalorados debates; sem a visibilidade da essência humana no pulsar das relações entre votantes e futuros votados, a disputa eleitoral acaba confinada num estreito e impessoal duto burocrático. A democracia, entretanto, não poderia ficar resumida ao cumprimento protocolar do calendário legal, da circunstância periódica.
Infelizmente, por causa da pandemia da Covid-19, a campanha ficou sem o feeling incomparável do corpo-a-corpo, passou a respirar basicamente por meio de apelos congelados da propaganda política e da massificada interlocução virtual. Há uma visibilidade sedutora, mecânica e perigosa que faz o eleitor substituir o olho-no-olho com os candidatos pela cômoda – e descartável, nesse caso – interação online.
As plataformas virtuais nunca substituirão o abraço, o tão subestimado e depreciado tapinha no ombro, procedimentos que só têm sua mística se praticados livres de máscaras e equipamentos protetivos que afastam, que impõem distâncias inimagináveis por pessoas – e em grande maioria – que não abrem mão de algo chamado “calor humano”.
As urnas serão abertas no dia 15 de novembro, a data da proclamação da República. Um dia que, neste 2020 tão restritivo, poderá registrar a maior abstenção já contabilizada num pleito eleitoral. Que a democracia, porém, sobreviva e continue respirando. Por todos nós.