Não há como negar que no centro da polêmica sobre a vacina contra o coronavírus há dois focos que se sobressaem: de um lado a defesa da vida, com a necessidade imperiosa de imunizar a população contra uma pandemia mortífera; e de outro lado a defesa de interesses nada dignificantes, movidos pela desmedida ambição financeira e recortes ideológicos.
Em pauta, a vacina chinesa já aprovada pelas autoridades sanitárias do País e com a encomenda para o Brasil feita pelo governador Dória Jr, de São Paulo. Mas o presidente Jair Bolsonaro proibiu a aquisição e o uso obrigatório da vacina no Brasil. Ele prefere, ao que tudo indica, o uso da cloroquina, que não tem lastro científico de eficácia consolidado. Mas o pano de fundo é a eleição presidencial de 2022, na qual Bolsonaro e Dória Jr têm interesses opostos.
Uma lástima. Um absurdo que a repórter Bruna Lima, em texto objetivo e contundente publicado no Correio Braziliense, define assim: “O embate politizado em torno da vacina contra a Covid-19 tem o poder de interferir na intenção de imunização dos brasileiros, sobretudo ao se diferenciar a nacionalidade da candidata. Um estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília (CPS/UnB) revela que o número de pessoas que pretendem tomar as doses diminui em 16,4%, em relação à candidata chinesa, CoronaVac; e 14,1%, ao se tratar da russa, Sputnik V”.
Para João Gabbardo, atual coordenador-executivo do Comitê de Contingência do Coronavírus de São Paulo, a politização desse debate é “absolutamente desprezível”. Por essas e outras é que o Brasil está neste sacolejo incerto e desvairado. Não é só de cura para a Covid-19 que precisamos. É urgente e essencial encontrar uma vacina para erradicar a falta de bom-senso, que parece incurável em certos governantes.