A série Bom Dia, Verônica adapta o romance do autor Raphael Montes sobre uma subestimada escrivã da polícia civil que investiga dois casos de violência doméstica – ela é desvalorizada por ser mulher e, é claro, porque seus casos envolvem violência contra mulheres. A série nacional aborda claramente um assunto relevante, mas pode fazê-lo de uma forma dramaticamente atraente?
Pode, e muito!
Verônica (Tânia Müller) é escrivã na delegacia de Homicídios em São Paulo e trabalha sob o comando do chefe Wilson Carvana (Antônio Grassi), que por acaso é seu padrinho. Carvana supervisiona talvez a força policial mais desleixada de todos os tempos; é o que prova a cena que se desenrola: um pai enlutado de uma vítima de estupro está sentado no escritório e dois policiais devem conduzi-lo para fora antes que o criminoso chegue. Enquanto isso, uma mulher chateada, Marta Campos (Júlia Ianina), está sentada no escritório de Carvana, mas ele a dispensa. Nisso, os policiais arrastam o estuprador, só que o pai zangado puxa uma arma para ele, e um detetive a arranca de sua mão, fazendoa-a voar para longe e a chorosa Marta a pega. Verônica vê e pede que ela desista mas, antes que ela possa intervir, Marta dá um tiro na própria cabeça.
Já em outro lugar do mesmo drama, Janete (Camila Morgado) e seu marido Claudio (Eduardo Moscovis) voltam para casa. Ela se senta com cautela e tira a pulseira do hospital de seu pulso. Ele entrega então a ela um comprimido e um copo d’água. Muitas mulheres abortam, ele garante. O episódio exibe então cenas assustadoras e dominadoras de Claudio e uma subserviência acovardada de Janete.
SPOILERS! Se não quiser pule os próximos 2 parágrafos.
Lá na investigação sobre Marta, Verônica descobre que ela foi abusada por um idiota em série que conheceu por meio de um serviço de namoro online. Então, ela divulga na imprensa um número de disque-denúncia e pede às mulheres que enfrentam violência doméstica que liguem para ela. Janete está vendo e anota o número. Depois escondendo-o em um livro de palavras cruzadas.
E finalmente chega o momento que dá corpo ao drama principal: uma jovem chega a São Paulo, tendo deixado para trás a mãe e a filha em busca de emprego. Janete então se aproxima dela, oferecendo-lhe um serviço de empregada doméstica. Ela, muito feliz, aceita. Elas caminham até o carro onde Cláudio a apaga com um taser e a joga no porta-malas.
Bom Dia, Verônica é bem intencionada e comovente em sua abordagem do tema violência contra mulher. Tânia Müller interpreta a personagem com seriedade suficiente para manter a produção pegando fogo. Alguns traumas do passado de Verônica provarão que ela possui um ponto de vista sólido com relação aos temas feministas da série. Com certeza parece que ela está preparada para ser uma heroína conscienciosa e moralmente prudente.
5 pipocas!
Em cartaz na Netflix.