Os profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, assistentes – e indígenas somam-se a hipertensos, diabéticos e outras pessoas cujos problemas de saúde as colocam no chamado grupo de risco diante da pandemia da Covid-19. Em Mato Grosso do Sul, os surtos dessa doença estão afetando cada vez com maiores intensidade e frequência os ambientes hospitalares e aldeias, produzindo lágrimas de desespero, dor e desalento.
Em 1º de julho morreu o primeiro médico da linha de frente no Estado, Miguel Yoneda, 74, plantonista no Hospital da Vida, de Dourados. Apesar da idade, Yoneda abriu mão do isolamento e foi combater a pandemia. O médico residia em Ponta Porã e estava internado no Hospital Universitário de Dourados com quadro grave da infecção provocada pelo novo coronavírus.
Um dia depois morreu Aparecido dos Santos Alexandre, o Cicinho, coordenador municipal de Vigilância Epidemiológica de Douradina. Ele era presidente do Conselho Municipal de Saúde e integrava o Comitê Permanente de Enfrentamento à Covid-19. O pneumologista Antônio Carlos Monteiro, 59, de Dourados, foi o terceiro profissional de saúde vítima da doença causada pelo coronavírus em Mato Grosso do Sul.
Em Campo Grande, o enfermeiro Valdinei Pereira de Souza, 43 anos, servidor do Hospital Regional (HRMS), foi a 12ª vítima entre profissionais da saúde no Estado. Em Corumbá, o técnico de enfermagem Jovelino Lopes, 55, foi o quarto profissional da saúde que perdeu a vida no município com a doença. A primeira aconteceu em 23 de junho, quando foi a óbito a técnica de enfermagem Rosimeire Ajala, 44, que trabalhava na Maternidade.
De acordo com levantamentos extra-oficiais, até segunda-feira (10) já haviam morrido mais de 15 profissionais da saúde em Mato Grosso do Sul. Dados apontam que, até àquela data, de 29.101 pacientes infectados no estado 2.721 eram profissionais da saúde, sendo 9,3% médicos, enfermeiros ou técnicos de enfermagem.
NAS ALDEIAS
A morte por coronavírus entre os índios é uma das principais preocupações das autoridades médico-científicas, antropólogos e organizações voltadas aos direitos humanos. Estado com uma das maiores concentrações de índios no Brasil, Mato Grosso do Sul está no centro dessa atenção, principalmente entre os guarani e caiuá da Grande Dourados e Cone Sul e os terena de Aquidauana e Miranda.
Até à semana retrasada 22 nativos originários haviam morrido com a Covid-19 em território sul-mato-grossense. Um dos óbitos mais recentes aconteceu no domingo (9) e foi bastante pranteada: o líder terena e ex-coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai), Joãozinho Silva, 57, sucumbiu ao vírus. Ele teria sido o 15° óbito da etnia na região de Aquidauana. O líder terena foi um dos primeiros índios de Mato Grosso do Sul a concluir o curso de técnico de indigenismo, ainda na década de 80.
Diante de tantas mortes, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, exonerou o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), Eldo Elcidio Moro. Aquidauana e Anastácio, duas cidades-gêmeas, estão praticamente acuadas pela pandemia. As medidas adotadas até agora não surtiram efeito, a rede hospitalar entrou em pré-colapso, doentes estão sendo enviados para Campo Grande. Nem mesmo a ajuda de aparelhos respiradores enviados pelo governo estadual adiantou muita coisa: não há estrutura de pessoal e instalações técnicas preparadas para que todos esses equipamentos possam funcionar.
OUTROS SETORES
Contaminações, recuperações e óbitos são também constatados na política, nas atividades religiosas e outros segmentos. Se na Assembleia Legislativa três deputados estaduais conseguiram se recuperar – o presidente, Paulo Corrêa (PSDB); Neno Razuk (PTB); e Coronel David (sem partido) -, infelizmente um desfecho semelhante não aconteceu para outros políticos.
A vice-prefeita de Inocência, Neusa Dias Junqueira, 58, perdeu essa luta e foi a óbito. Ex-vereadora de três mandatos, era muito popular na cidade, aonde trabalhava vendendo pastéis na feira-livre. Combativa e alegre, é lembrada com saudade por Suely Veiga, líder e dirigente sindical dos trabalhadores da Educação, que postou uma foto com Neusa e a presidente do Sindicato dos Professores de Iguatemi (Simted), Almair Lima de Grandi, durante um encontro em 2019.
Outra vítima na vida pública estadual foi o vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Terenos, Jose Agostim Acosta Neto, conhecido como Zé Corin, do PSDB. Ele morreu na madrugada de 31 de julho. Por causa desse risco, prefeituras, Câmaras de vereadores e Assembleia Legislativa estão realizando suas atividades por meio de videoconferências e outros recursos digitais.