O pregador evangélico Clodoílson dos Santos Pires, 54, é uma das mais atuantes e respeitadas lideranças religiosas de Campo Grande. Além das atividades da igreja e da intensa atuação no Conselho de Pastores e na convivência diária com a população, ele é um cidadão que trabalha para que os destinos do Município sejam decididos mediante a efetiva participação da sociedade nas demandas sob responsabilidade institucional dos poderes públicos.
“É a população que conhece melhor e que sabe quais os problemas e também as soluções da cidade”, afirma, com a certeza de quem se habituou a dialogar assiduamente com moradores das diferentes regiões urbanas, tanto no âmbito do seu apostolado como nas incursões que faz com frequência às casas e espaços de convivência.
Por causa disso foi convidado a disputar uma vaga na Câmara de Vereadores em 2016 e por muito pouco não conquistou uma das 29 cadeiras: teve 3.055 votos. Foi mais votado que dois dos eleitos, contudo ficou sem a vaga porque faltaram votos de legenda ao partido ao qual estava filiado na época. Agora, no Podemos, encontrou total respaldo de dirigentes e filiados e aceitou novo convite para entrar na disputa.
Nesta entrevista exclusiva à FOLHA, Clodoílson Pires fala sobre a confiança que tem nas coisas espirituais fundamentadas na palavra de Deus e aborda propostas e experiências que pretende debater na campanha. Pontua prioridades para o mandato, como a família, a fé, os valores cristãos, o combate às desigualdades e a defesa dos menos favorecidos. A pandemia da Covid-19 e sua identificação com o conservadorismo de centro-direita também constam da entrevista.
FOLHA DE CAMPO GRANDE- Quais as motivações mais determinantes para tentar mais uma vez conquistar uma vaga de vereador na Capital?
PASTOR CLODOÍLSON – Campo Grande me acolheu. Nasci em Aquidauana, morei em São Paulo, então acho que uma das motivações mais determinantes é poder contribuir para uma mudança cada vez melhor de nossa Capital, uma cidade que tão bem me acolheu. Essa retribuição é o mínimo que posso fazer por esta linda cidade, com gente tão acolhedora.
FCG – Campo Grande está chegando à casa de um milhão de habitantes, mas ainda tem demandas antigas. Quais as questões
mais emergentes que, se eleito, o senhor pretende atacar?
PC – A família. Sempre foi algo com que trabalhei. Já são quase 30 anos de atuação. Ajudando famílias, ajudando pessoas, acredito que teremos uma cidade mais humana, ser mais participativo com os anseios da população. É ouvindo as demandas que podemos atuar com maior eficácia. Quem sabe dos problemas é a população. E quem escuta quem sabe, tem sempre maior legitimidade para atuar. Sempre trabalhei na área da família, porém é preciso resolver outros desafios, como a mobilidade urbana, que é um problema sério, e a reciclagem do lixo, pois ainda falta conscientização de parte da população e uma ação mais efetiva do poder público. Enfim, são pontos-chave, extraindo as demandas in loco, no dia a dia das pessoas em cada bairro da cidade.
FCG – O fato de ser mais um entre tantos pastores candidatos pode atrapalhar sua candidatura?
PC – De forma alguma, até porque estou colocando meu nome para a população em geral e não somente para o segmento. E também existe uma ética no segmento pela qual cada pré-candidato tem um determinando lugar de atuação. Eu não vou colher na seara do outro e acredito que cada um respeita isso. Há muitas denominações na Capital, o que acaba tornando natural a existência de muitas pré-candidaturas.
FCG – A proclamação de suas ideias focaliza abordagens que o tornam próximo dos eleitores que elegeram Jair Bolsonaro. Esse traço significa que sua campanha é voltada basicamente ao eleitorado de direita e centro-direita?
PC – Sim. Sou uma pessoa de centro-direita, conservador, defendo a manutenção de instituições sociais tradicionais como a família, a comunidade, a religião. Enfatizo a preservação e a estabilidade das instituições, opondo-me a qualquer tipo de movimentos revolucionários e de políticas progressistas. Devemos ter um olhar mais atento para as crianças, adolescentes, jovens, mães e até o próprio homem, o pai de família. Muitas vezes as pessoas acham que o homem não precisa de cuidados. Precisa, sim, e o poder público acaba não tendo esse olhar. A família, como um todo, precisa ser cuidada, assim como seus valores básicos.
PC – Isso é um grande desafio. Uma boa parte dos gestores não soube lidar. Eu vejo que em Campo Grande o lockdown foi feito com muita antecedência e isso fez com que pagássemos a conta hoje. As pessoas estão saturadas de ficar em casa. Quando surge a questão de fechamento total é algo que assusta. Desde o início os especialistas já diziam que muitas pessoas, infelizmente, seriam infectadas pelo coronavírus, sendo assintomáticas em sua maioria. Os estudos sobre fechamento total são diversos e a gente acaba não sabendo em quem acreditar. Temos que tomar as precauções necessárias. É como gosto sempre de lembrar: “Prevenção sim, medo não”. Temos de ser prevenidos em tudo aquilo que a gente faz. O vírus existe sim, é uma realidade. Não podemos ignorar isso. Só estamos vivendo esse distanciamento por conta de os governantes não se preocuparem com a saúde como deveriam, não somente nesse momento, mas em gestões anteriores.
FCG – Nas eleições anteriores o senhor teve mais votos do que vereadores eleitos, mas faltou legenda. Existe algum risco de a mesma situação se repetir este ano ou o Podemos oferece outras garantias?
PC – Risco sempre existe. Essa é uma eleição, diferentemente de anos anteriores, na qual se está disputando com elementos do próprio partido. É uma disputa saudável. Quem fizer mais votos dentro do partido é eleito. Esta é minha meta, como é também dos outros. Mas acredito no trabalho desenvolvido nesses quase 30 anos e Deus me presenteou com pessoas maravilhosas à minha volta. E junto com essa equipe vamos seguindo nosso objetivo dentro do partido.
FCG – Qual a mensagem que o senhor gostaria de enviar à população?
PC – Que o povo se interesse mais por política, não politicagem, mas sabendo como funciona o sistema eleitoral. Só assim teremos pessoas de bem que queiram, de fato, trabalhar em prol desta cidade tão linda que é Campo Grande. Dessa forma, creio, teremos uma Câmara Municipal mais próxima do eleitor para que ele faça as cobranças ao seu representante. Há muito trabalho a ser feito na Capital. E com a participação da população podemos realizar muito mais. Gosto de dizer que sozinho vamos rápido, mas juntos vamos mais longe. Somente assim podemos fazer o melhor pela nossa Cidade Morena.