Pequeno ou grande, qualquer foco de queimada num bioma como é o Pantanal de Mato Grosso do Sul traz consequências desastrosas para a natureza, com impactos e perdas, algumas sem recuperação. É o caso de espécies em extinção. Sem saída quando estão acuadas pelo fogo, milhares de espécies de mamíferos, aves, répteis, insetos e vegetais tornam-se alvos fáceis da ação devastadora das chamas.
O retrato do Pantanal durante e pós-queimada é muito impactante. Os tuiuiús e araras, duas das aves-símbolos da região, vivem o trágico dilema entre escapar do fogo ou socorrer as crias. Onças pintadas e pardas, jacarés, cobras e lagartos, quatis, tatus, tamanduás, lobinhos, macacos, pacas, veados, capivaras, ariranhas, antas e preás, pirilampos, morcegos, sabiás, coelhos, ipês, carandás, vitórias-régias e outras incontáveis espécies que habitam este magnífico santuário hoje são vidas sem qualquer valor diante da destruição.
Calcula-se que mais de 1,2 milhões de hectares já foram consumidos pelo fogo (o equivalente a mais de dois milhões de campos de futebol). Foram detectados mais de 2.400 focos de incêndios só no mês de agosto no Pantanal, e, infelizmente, a previsão para próxima chuva na região é só no dia 29 de setembro. Os animais estão entre as maiores vítimas das queimadas que atingiram alguns biomas brasileiros nos últimos meses.
Conforme a Polícia Ambiental, ainda não é possível ter um número exato de animais mortos pelo fogo. Porém, já se sabe que a perda de vida selvagem está sendo bem expressiva. Brigadistas relatam ter encontrado tuiuiús, tatus, sucuris e tamanduás mortos, muitos deles carbonizados. Além do mais, também houve apontamentos, que ainda serão contabilizados, de animais atropelados em rodovias ao tentarem fugir do incêndio, como quatis, tamanduás, jacarés e cobras.
O especialista Arnildo Pott, pesquisador e professor da Universidade Federal (UFMS), explica: “Quanto mais campo, mais rápida é a recuperação. Quanto mais floresta, mais demorada. Além disso, tem outro aspecto, que é o carbono: as plantas acumulam carbono, o solo acumula carbono, material morto é carbono acumulado, e quando isso vai para o espaço, acontece o conhecido efeito estufa”.
Os incêndios no Pantanal colocam em risco um incrível trabalho que vem sendo realizado há mais de 20 anos à favor da conservação das araras-azuis. A ave, que esteve criticamente ameaçada de extinção, hoje é classificada como espécie vulnerável graças a iniciativas científicas e acadêmicas como o Projeto Arara Azul.