Quem vê ou imagina a maior e uma das mais belas planícies inundáveis do planeta, com maravilhas que a fizeram ser batizada patrimônio natural mundial pela Unesco, não acredita e não deixa de se assustar com as impactantes imagens registradas na longa estiagem deste ano. O Pantanal – com seus 250 mil km quadrados de extensão, sendo 140 mil deles em território brasileiro e dois terços destes em Mato Grosso do Sul – está com grande parte de seu território em chamas, com situações tão terríveis que as mãos do homem não conseguem controlar em curto prazo.
Provocadas por mãos humanas ou por fenômenos químicos decorrentes da seca prolongada, as queimadas já devastaram até agora mais de 1,2 milhão de hectares de vegetação nativa, nos dois últimos meses. De acordo com o Corpo de Bombeiros dos dois estados, foram queimados 815 mil hectares no Pantanal de Mato Grosso do Sul e 350 mil hectares no território coberto pelo bioma em Mato Grosso.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostravam na semana passada que o Pantanal teve 1.648 focos de incêndio em julho, o número mais elevado desde 1998, quando a região passou a ser monitorada por satélite. O número é 3,4 vezes maior que em julho do ano passado, quando aconteceram 494 queimadas.
MOBILIZAÇÃO
Na segunda-feira (3) cerca de 300 militares e civis, além de cinco aeronaves das Forças Armadas, continuavam o combate às chamas na região de Corumbá e Ladário. Um avião cargueiro Hércules da Força Aérea Brasileira, com capacidade para 12 mil litros de água, está apoiando a ação das equipes em terra. No fim de semana uma chuva espessa de fuligem com muita fumaça cobriu a cidade.
O meteorologista Natálio Abrão, da Estação Climatológica de Campo Grande, diz que a situação deve ficar ainda mais grave porque há previsão de mais 15 dias de seca. “A estiagem perdura há mais de 40 dias e o fogo atinge a raiz das plantas. Apaga por cima e depois reacende, pois o solo seco é arenoso e ácido”, explicou.
O comandante do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), tenente-coronel Huesley Silva, informou que os novos focos de incêndio surgiram na divisa com o Mato Grosso, nas imediações do Parque Nacional do Pantanal. No estado vizinho, as chamas também são combatidas com apoio das Forças Armadas. Equipes embarcadas percorrem as áreas ribeirinhas dando orientações sobre as medidas a serem tomadas em caso de incêndio. Desde o mês passado, o uso de fogo para limpeza de áreas de lavouras e pastagens está proibido em todo o País.
AUMENTO DE INCÊNDIOS
Esta situação já se tornou recorrente nos últimos anos. O número de focos de queimadas no Pantanal entre 1º de janeiro e 11 de setembro de 2019 – quando a estiagem tem seu pico na região – é 334% maior que o registrado no mesmo período em 2018 e 43,6% acima da média registrada nos mesmos dias dos últimos 21 anos (de 1998 até 2018). Os dados são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ao todo, de janeiro a setembro de 2019 foram registrados pelo Inpe 4.515 focos, contra 1.039 em 2018 (de janeiro a 11 de setembro). A média histórica de 1998 a 2018 é de 3.086 focos – o pico foi em 2005, quando foram registrados 9.881 focos de incêndio no bioma. Entre todos os municípios do país, Corumbá – conhecido como a “Capital do Pantanal” – foi o que mais registrou focos de incêndio em 2019, com 3.138 focos entre 1º de janeiro e 11 de setembro.