As autoridades sanitárias de Mato Grosso do Sul e da maioria dos municípios têm baixado medidas duras para combater a pandemia da Covid-19. Baseiam-se nas recomendações médico-científicas, que continuam tendo no isolamento social e nas demais medidas de higiene e proteção as únicas garantias para prevenir o contágio e evitar sua rápida propagação.
Em Campo Grande, a exemplo do que fez o governo estadual, a prefeitura até que foi rigorosa nas intervenções restritivas às aglomerações logo que foi declarado o estado de calamidade. No entanto, aconteceu em seguida, talvez antes do momento mais adequado, um relaxamento das restrições, sobretudo em virtude da pressão dos setores da economia mais afetados, como o comércio, e da aquiescência dos empregados e de categorias na informalidade.
Nesse contexto, o afrouxamento ganhou dimensão avantajada com a expressiva parcela da população que, ansiosa para ganhar as ruas ou duvidando da letalidade e do alcance avassalador da doença, fez pouco caso ao apelo para ficar em casa. A capital de Mato Grosso do Sul, que tinha os índices mais baixos de contaminação (entre óbitos e testes positivos), logo passou a ser o Lado B dessa estatística.
Com a baixa adesão popular ao distanciamento social, protocolo mais importante da prevenção ao coronavírus no planeta, Campo Grande agora está entre as cidades que mais subiram nos gráficos nacionais de contaminação, tanto em mortes como em casos confirmados. Isso levou o poder público municipal a retomar as medidas restritivas que haviam sido amenizadas e as tornou ainda mais severas, com desenho de um lockdown a partir do final de semana.
Assim, a prefeitura está fazendo a sua parte, queiram ou não aqueles que ainda consideram ser possível encaixar nesta crise um ambiente de seminormalidade. Pois se o Executivo cumpre o seu papel, lamentável e absurdamente grande fatia da população ignorou a própria responsabilidade, foi às ruas, promoveu festinhas e festões, bebericou nos bares, pegou a família e foi ao mercado, fez pipa com as máscaras e quem sabe até achou graça das informações da TV sobre a escalada do coronavírus e o quase colapso do sistema de saúde na cidade.
No início do ano, logo após anunciar a pandemia, a Organização Mundial de Saúde recomendou a todos os países que ampliassem testes em pacientes com sintomas e fortalecessem ações preventivas, sobretudo com medidas para reduzir a circulação e aglomeração de pessoas. Em abril, um estudo de Harvard sugeria que as medidas de distanciamento social deveriam ser mantidas de forma intermitente até 2022.
Segundo salientam Cristiano Caveião e Fabiana da Silva Prestes, coordenador e professora do curso de Tecnologia em Gerontologia: Cuidado ao Idoso, da Uninter, todas as instruções dos órgãos de saúde precisam ser rigorosamente seguidas. “Dessa forma, os órgãos de saúde orientam os melhores cuidados a serem seguidos. E quando estes são acatados pela população, torna-se possível enfrentar a situação e passar por ela sem grandes prejuízos”, anotam.
Agora, uma pesquisa das universidades de Harvard, Cambridge e Oxford conclui que o distanciamento social é o mais efetivo e seguro procedimento para evitar tanto as possibilidades de contaminação como a formação de ambientes ou comportamentos que animem o vírus a uma rápida propagação. Como se vê, essas observações, assinadas nas planícies de conhecimento da Ciência e da Medicina, atentam para o que não se aprende e nem se ensina numa faculdade ou numa academia científica, mas em casa ou então na própria consciência: comportamento, responsabilidade, sensatez.
E, sem medo de errar, é necessário que se registre: a pandemia só chegou a esse tamanho porque contou com a colaboração de gente que a colocou no colo, criando seus ambientes preferidos de propagação em raves, paticumbuns, compras, passeios e outras irresponsáveis aglomerações. O preço a ser pago é caríssimo e doloroso. Só por Deus!