Em entrevista exclusiva à FOLHA DE CAMPO GRANDE, o vereador João Rocha (PSDB) concentrou suas atenções em duas questões que considera essenciais. A primeira, o combate à pandemia do Covid-19. A segunda, a afirmação do entendimento que marca as boas relações entre Legislativo e Executivo, condição fundamental para enfrentamento das crises.
Ele falou também sobre as constantes menções ao seu nome como mais cotado para vice do prefeito Marquinhos Trad, numa eventual aliança entre o PSDB e o PSD. E mostra confiança no sucesso dos entendimentos que já estão sendo encaminhados. Mas ressalva: é bem amplo o quadro de nomes tucanos para a indicação.
Um dos políticos mais respeitados de Campo Grande, aos 63 anos João Rocha possui um currículo elogiável. Formado em Educação Física pela Universidade Federal (UFMS), é desportista apaixonado e nos tempos de competição figurou entre os mais premiados atletas do Estado. Em mais de 33 anos exerceu cargos públicos dentro da sua especialidade, sobretudo como diretor-presidente da Funesp (Fundação Municipal de Esportes) e presidente da FJMS (Federação de Judô de Mato Grosso do Sul) e secretário do Município e do Estado.
Eleito pela primeira vez em 2008, esta é a terceira vez consecutiva que preside a Câmara de Vereadores. Se quisesse e dependesse do apoio dos colegas, certamente iria para a quarta investidura na Mesa Diretora, com apoio inclusive de oposicionistas.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Algumas medidas restritivas da Prefeitura para barrar a pandemia causaram polêmica. Quais as medidas que a Câmara aprova e desaprova?
JOÃO ROCHA – A Câmara criou uma comissão provisória de combate ao coronavírus, com cinco membros e presidida pelo vereador Dr Lívio. Em conjunto com a Prefeitura e Secretaria de Saúde, a comissão acompanha a situação para a tomada de decisões de acordo com cada situação e seguindo o entendimento técnico-científico. A situação é mutante, a cada dia é um quadro diferente. As soluções têm que ser adotadas assim, conforme a necessidade do momento. Nós temos apoiado as iniciativas da Prefeitura, porque são tomadas com base técnica e científica, tanto no aspecto preventivo como no curativo. Algumas deram certo, outras nem tanto. É muito fácil criticar depois que a obra ficou pronta. Ninguém tem bola de cristal para prever como será amanhã… faz-se projeções. A cada momento tem que se tomar uma decisão.
FCG – Campo Grande é uma das cidades com os mais baixos índices de adesão ao isolamento social. É uma bomba de efeito retardado. Como lidar com parte da sociedade que ainda não aderiu aos protocolos científicos?
JR – É preciso avaliar. A Prefeitura da Capital foi uma das primeiras que adotaram o isolamento social, conseguiu segurar por um determinado período. Depois, fazendo a análise, o prefeito e sua equipe técnica, com a Câmara Municipal, entenderam que já era possível um relaxamento. Assim foi feito. E estamos avaliando, vamos ver os reflexos. No País inteiro há aumento dos casos, mas esta proporcionalidade não se registra em Campo Grande. Sempre será muito cedo para emitir uma opinião concreta e definitiva sobre isso, até por conta das características da pandemia.
FCG – Como conciliar o combate ao vírus e a retomada gradual da economia? Ou o poder público precisa assumir a manutenção das famílias sob isolamento social?
JR – Este é o grande desafio. É a conta que todo mundo está tentando fechar: segurar a população e controlar a pandemia com os menores efeitos negativos possíveis na economia. Vivemos um momento extremamente difícil, um momento de guerra, é assim que precisamos considerar. O inimigo é invisível, não se sabe onde está, aonde vai atacar. O que se tem são ideias sobre as variáveis que implicam disseminação ou controle da doença. Acredito que estamos no caminho certo.
FCG – Qual sua avaliação sobre os comportamentos do governo estadual, que editou mais de 70 medidas restritivas, e da população que continua ignorando os apelos sobre a necessidade do isolamento social?
JR – O governo tem adotado estratégias também com base científica. Estamos acompanhando, juntamente com o governador, o secretário Geraldo Resende (Saúde), a Assembleia Legislativa participa. No âmbito estadual as características são diversas, são municípios com densidade populacional maior ou menor. Acreditamos que essas medidas tenham seus efeitos positivos de proteger a população e diminuir os casos.
FCG – Qual a chance de uma aliança entre o PSDB e o PSD?
JR – Bastante provável, até por manifestações do governador, do prefeito, existe um compromisso de eleições anteriores. Conheço o governador há muitos anos, é um homem de cumprir compromissos, de cumprir a palavra. Creio que os entendimentos estão sendo mantidos entre os dois líderes e entre os partidos. É uma construção. E o caminho está sendo bem construído e brevemente teremos respostas positivas neste sentido.
FCG – Como o senhor recebe as citações e sugestões para ser o candidato à vice do prefeito Marquinhos Trad?
JR – Fico muito feliz de estar sendo lembrado para poder, numa possível aliança, ter meu nome entre os outros que estão disponíveis no PSDB. O partido tem muitos quadros. Se esta aliança se concretizar, o prefeito, o governador e os partidos buscarão um consenso. Não adianta indicar um nome que não tenha consenso. Se houver esse entendimento haverá um relacionamento longo entre prefeito e vice, para que isso seja bom para a população. Para que a administração esteja forte, coesa, aos moldes do que acontece atualmente. A harmonia entre prefeito e vice é muito importante. Se meu nome for indicado, estarei à disposição para contribuir com a cidade, caso esta aliança seja efetivada e seja vitoriosa.
JR – É uma situação bastante complexa. Até agora o calendário eleitoral está sendo cumprido. Quando entrarmos na fase de campanha, se as coisas estiverem como estão, ficará difícil levar as propostas, fazer o contato com a população, embora as mídias sociais façam um trabalho importante. Mas eu creio que não podemos dispensar nunca a possibilidade de dialogar diretamente com o eleitor, para que ele possa sentir segurança com o candidato que se apresenta a ele. Como não temos ideia de como vamos encontrar a época que se aproxima, é preciso fazer uma cuidadosa análise. Há quem proponha fazer em dezembro. Não sei se faz diferença de outubro para dezembro. E transferir para o ano seguinte provocaria uma mexida em toda estrutura eleitoral de calendário, de mandatos, do aspecto jurídico. Devemos aguardar um pouco mais para medir o comportamento do coronavírus e seus impactos.
FCG – No ano eleitoral os ânimos se acirram. Há risco de que isso interfira no relacionamento com o Executivo?
JR – De forma alguma. Os vereadores que aqui estão foram eleitos para cumprir com uma função. Esta função, desde que assumimos e até 31 de dezembro, será cumprida plenamente. Vamos entrar num período no qual praticamente todos os vereadores são candidatos à reeleição, partidos representados na Câmara terão candidatos. O debate político existirá, é natural, é do estado democrático de direito. Não poderemos nunca misturar nosso trabalho de parlamentar, preocupado com os interesses da cidade. Tudo aquilo que para nós representar benefício para o município, para a população, estaremos votando e fazendo análise criteriosa, sem misturar os interesses da sociedade com as campanhas políticas.
FCG – Quais as consequências das demissões dos ministros Mandetta e Moro para o país?
JR – Nos momentos muito delicados a política precisa ser praticada. Política é a arte do entendimento, do diálogo. Às vezes precisamos relevar algumas situações em nome e um bem maior. Agora, fica difícil dar uma opinião porque não vivemos o dia-a-dia do relacionamento entre ministros e presidente. Pelo meu estilo de fazer política, o bom-senso, a tolerância, o equilíbrio, a busca de administrar crises – que temos no cotidiano, até no ambiente familiar – são fundamentais. O grande segredo da política é a capacidade de administrar as crises. É possível administrar as crises. Vamos aguardar os desdobramentos. O presidente entendeu que não dava mais para continuar com os ministros e optou por fazer as trocas. Agora, todas as mudanças despertam reações. Pelo bem do Brasil, espero que as coisas voltem à normalidade e possamos concentrar o foco no combate ao coronavírus, que hoje é nosso maior inimigo e tem que se combatido.