Depois da experiência eleitoralmente gratificante proporcionada com a votação de Odilon Oliveira na sucessão estadual e do vazio que ele deixou ao pedir sua desfiliação, o PDT tratou de recompor suas estruturas orgânicas e reajustá-las dentro do seu legado histórico e programático. A volumosa massa eleitoral das urnas de 2018 era um componente circunstancial, porque tratava-se de um efeito do prestígio pessoal de um candidato que destoava do ideário trabalhista.
Quem se lembra, sabe que o juiz Odilon, em sua campanha, pedia votos para si e para o candidato presidencial do PSL, Jair Bolsonaro. Ignorava sem qualquer sinal de constrangimento o candidato de seu próprio partido, Ciro Gomes. A saída de Odilon foi um desafogo ideológico dos mais providenciais para os pedetistas, que se livraram de uma incômoda liderança, afinada com a extrema-direita, e puderam restaurar, ao menos em tese, a identidade ideológica do trabalhismo.
Outras defecções importantes, embora depurativas, reduziram as perspectivas de candidatura própria no PDT. O deputado estadual Jamílson Name, mesmo indiferente às orientações partidárias desde a posse, trabalhava para ser indicado entre os concorrentes à Prefeitura – porém, recolheu o flap ao sofrer o abalo das prisões do pai e do irmão, Jamil Name e Jamil Filho, presos sob a acusação de comandarem uma rede criminosa com milicianos, policiais e pistoleiros de aluguel.
Os dois vereadores eleitos em 2018, Odilon de Oliveira Júnior e Ademir Santana, ambos do grupo que gira na órbita da família Name, reproduzem o comportamento de Jamílson em relação ao PDT. Tudo isso faz cair sobre os ombros do deputado federal Dagoberto Nogueira a decisão e a responsabilidade de candidatar-se à Prefeitura. Se já foi difícil a reeleição, obtida com auxílio dos votos de legenda, arriscar-se numa disputa ainda mais complicada e onerosa não deve estar entre suas prioridades.
VAI-E-VOLTA
Um curioso grupo de prováveis candidatos é formado por nomes carimbados pelo SD (Marcelo Miglioli), PV (Marcelo Bluma), Paulo Matos (PSC) e João Catan (PL). Este último ainda está longe de firmar-se na largada, porque o pouco tempo de mandato na Assembleia Legislativa não garantiu capilaridade suficiente. Outro que dialoga com o vácuo é Miglioli. O engenheiro e ex-secretário de Infraestrutura chegou a abrir um horizonte promissor, “apadrinhado” por Reinaldo Azambuja.
Em seu primeiro mandato, o governador deu a Miglioli uma das mais cobiçadas pastas da administração e ainda deixou à sua disposição portas e janelas abertas para fazer política com a avalanche de obras físicas do Estado nos 79 municípios. Assim, não foi surpresa mais uma vez ter as bênçãos de Azambuja, que o lançou na corrida senatorial e quase o elegeu: de ilustre desconhecido, Miglioli saiu das urnas como o quarto mais votado. Mas não cresceu com isso.
Contrafeito por não ser chamado para o staff do segundo governo, resolveu abandonar tudo: cidade, partido, eleitores e até quem lhe deu sua maior chance na vida pública: Reinaldo Azambuja. Sua desforra: retornou de supetão ao Estado, anunciando-se como pré-candidato a prefeito. Trocou o PSDB pelo Solidariedade, conduzido pelos deputados Herculano Borges e Lucas de Lima e pelo vereador Papy. Deve estar crendo que voará alto sem as asas que tinha quando foi içado às alturas por Azambuja.
No caso do ex-vereador Marcelo Bluma, disputa majoritária não é experiência inédita. Ele já cumpriu esse papel pelo PV em 2008. O insucesso não o intimidou, mas fez com que adotasse uma distância administrada de disputas, ficando na lide política só com seu papel de dirigente máximo do partido. Para 2020, não cedeu a apelos para que se candidatasse a vereador e fez a escolha mais ousada: entrar no jogo sucessório. Só que continuará sem armas que lhe faltaram da vez anterior: alcance financeiro e tempo expressivo no horário de propaganda eleitoral.
O PSC ficou sem Sérgio Harfouche, mas ganhou Paulo Matos. O ex-secretário municipal de Habitação no governo de Nelsinho Trad assumiu as tarefas de colocar o partido no bloco de largada e garantir desempenho convincente à chapa proporcional que concorrerá à vereança. Matos tem na esposa, Liz Derzi, um de seus pilares mais fortes na ação política. Ela deve candidatar-se a vereadora. Ainda há quem aposte que a pré-candidatura de Matos não passa de balão de ensaio para valorizar uma composição politicamente lucrativa para o PSC.
Por fim, o PTB, que já foi de Nelsinho Trad e agora está com a rédea engatada nas mãos do ex-senador petista Delcídio Amaral. Ele fez seu desembarque na legenda escoltado pelo deputado estadual Neno Razuk e pelo ex-deputado federal fluminense Roberto Jefferson. Incógnitos são seus próximos passos.
Quando provocado para dizer a que veio, Delcídio afirma estar pronto para recuperar o espaço e o prestígio políticos que detinha antes de ter seu mandato cassado pelos colegas do Senado sob a acusação de ter tentado obstruir as investigações da Lava Jato. Deixou no ar declarações ambíguas sobre planos para 2020, mas garantiu que voltará a disputar o governo. Os petebistas querem que se candidate a prefeito. No entanto, há quem duvide que tenha coragem para tanto.