Ao sair de um evento organizado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, e depois de quase uma hora de palestra, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), se deparou com um protesto de cerca de 15 pessoas. Vestidos de verde e amarelo, elas demonstravam apoio ao presidente Jair Bolsonaro, ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e à prisão após condenação em segunda instância, que está em discussão no STF.
Os manifestantes cercaram o carro de Toffoli, estenderam uma faixa na frente do veículo e chegaram a bater na lataria. A faixa dizia “hienas do STF”, numa referência ao vídeo publicado por Bolsonaro em que ele se coloca como um leão sendo atacado por hienas, que seriam o Supremo, a imprensa, partidos e outras organizações da sociedade. Bolsonaro percebeu o erro e apagou o vídeo, pedindo desculpas pela ofensa.
PACTO
Na palestra, Toffoli afirmou que os Poderes não devem “retaliar um ao outro”. Ele defendeu o pacto que propôs entre os chefes dos Poderes. Disse que os partidos políticos se tornaram apenas veículos de poder, numa referência velada ao PSL. O partido do presidente Jair Bolsonaro teve sua divisão interna exposta há semanas, com uma ala de congressistas fiel ao presidente e outra que é crítica a ele e se aliou ao presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE).
“Os partidos passaram a ser apenas os veículos de chegar ao poder. Vejam aí. Não vou citar nomes de partidos”, esquivou-se. Toffoli fazia considerações sobre o fato de que a sociedade brasileira se divide segundo seus interesses, em corporações, e que não há um projeto de país unificado. “É por isso que nós temos o maior partido político com 10% do Congresso e uma frente evangélica com 250 integrantes. O Parlamento acabou se organizando muito mais por frentes parlamentares do que por partidos políticos”, afirmou.
“É uma articulação entre diferentes. Pessoas que pensam diferente. Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, Dias Toffoli, Augusto Aras. São pessoas que têm que se sentar junto para enfrentar, com apoio das instituições que estão à frente e com a compreensão da sociedade, que nós temos que avançar no desenvolvimento do país e no enfrentamento das grandes dificuldades. Sem retaliar um ao outro”, disse.
Durante a fala de Toffoli, vinha de fora o som dos manifestantes, com megafone e bater de panelas. Enquanto isso, o presidente defendia o Judiciário, dizendo que a demanda no Brasil é a maior de todo o mundo e ressalvando que aceita críticas. “Não existe Suprema Corte que julgue mais que a brasileira. O Judiciário não tem um tempo de solução que é o tempo do mercado e da política. […] Judiciário deveria ser a última solução a ser chamada”, disse.
“Ao invés de ficar atacando o Supremo… Nada contra, se não gostou da decisão, pode criticar. […] Mas será que o Supremo é o problema ou será que é a cultura do litígio?”, completou. Toffoli disse ainda que o protesto do lado de fora era algo positivo. “Do ponto de vista do Estado democrático de Direito, é bom hoje que as pessoas saibam que existe o STF, que saibam quem são os 11 ministros, que venham fazer protestos, desde de que seja dentro da legalidade e da ordem, não sendo violentos”.
HIENAS
O STF (Supremo Tribunal Federal) vai abrir uma investigação contra Filipe Martins, assessor internacional da Presidência da República, no inquérito criado para apurar fake news e ameaças contra integrantes da corte. O motivo é uma publicação em que ele defende a mensagem de um vídeo que comparou o tribunal a hienas.
Jair Bolsonaro compartilhou na segunda-feira (28) um material em que partidos políticos, a imprensa e o STF são retratados como animais que atacam um leão, retratado como o próprio presidente. Ele apagou a publicação e pediu desculpas no dia seguinte, mas Martins reforçou seu conteúdo.
“O establishment não gosta de se ver retratado, mas ele é o que ele é: um punhado de hienas que ataca qualquer um que ameace o esquema de poder que lhe garante benefícios e privilégios às custas do povo brasileiro. Isso só mudará quando o Brasil se tornar uma nação de leões”, escreveu o assessor no Twitter.