Ao menos cinco grandes lideranças farão fora dos palanques uma interessante disputa de influências eleitorais e políticas na sucessão campo-grandense em 2020. Os ex-governadores André Puccinelli (MDB) e Zeca do PT; o ex-prefeito, senador Nelsinho Trad (PSD); o juiz federal aposentado e ex-candidato do PDT ao Governo, Odilon de Oliveira; e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Cada um tem seu peso específico e todos dispõem de respeitável inserção popular, porém o peso diferenciado que deverá mover a balança nessa disputa é a do governador tucano.
Os partidos que alimentam em diferentes proporções o desejo de fazer parte do jogo sucessório e complicar o projeto de reeleição do prefeito Marquinhos Trad (PSD) estão cientes dessa realidade. E só vão fechar suas estratégias para a campanha quando tiverem certeza absoluta sobre o que Azambuja fará. Não adiantará muito agir sem esta certeza e montar um plano que pode sofrer surpresas desagradáveis, mesmo porque a maioria das agremiações reclama de um problema tão preocupante quanto o de não dispor de nomes competitivos: a falta de recursos compatíveis com os custos de uma empreitada desse porte.
O governador tem diante de si duas alternativas. Uma é executar aquilo que já vem antecipando há um bom tempo, ao revelar que sua vontade é construir uma aliança PSD-PSBD para oxigenar a luta de Trad pela reeleição. E a outra alternativa é lançar um nome dos quadros sociais-democratas na cabeça-de-chapa, o que significaria enfrentar e impedir a reeleição do prefeito.
As duas hipóteses estão vivas, embora o desejo pessoal de Azambuja abasteça a tendência mais provável, a aliança com o partido de Marquinhos, em vista da liderança incontestável que o governador exerce no partido e provoca uma adesão simultânea e quase maciça da militância. A exceção, nesse caso, é o grupo que simpatiza com a ideia de disputar a Prefeitura com uma chapa própria, capitaneada pela deputada federal Rose Modesto, que foi adversária de Marquinhos Trad em 2016, quando levou a disputa para o segundo turno.
FATOR ROSE
Azambuja não intimida e nem procura obstruir as articulações de Rose Modesto na tentativa de atrair os filiados para seu projeto de enfrentar Marquinhos Trad. Porém, não esconde estar incomodado com a insistência da deputada, que mesmo defendendo um direito legítimo de qualquer filiado pode gerar um debate desgastante na legenda. O hábil e objetivo presidente estadual do partido, Sérgio de Paula, já se mexe para garantir a unidade interna e conservar os objetivos maiores do PSDB.
De Paula está atento aos interesses do Estado e do governador, consciente do tamanho dos benefícios assegurados pela parceria Governo-Município, uma estratégia providencial que dá a Campo Grande os investimentos e as garantias para não afundar no abismo que a vinha tragando na gestão anterior. Além disso, o dirigente tucano sabe também que o governador tem princípios sólidos, entre os quais o da gratidão, e honra a palavra empenhada. Nesse capítulo está inclusa a declaração de que sua vontade pessoal seria em 2020 retribuir Marquinhos Trad com o mesmo apoio que recebeu em 2018 para se reeleger governador.
Na verdade, Rose já comprovou suas habilitações políticas e populares, sendo a campeã de votos para deputada federal e escalando degraus expressivos na Câmara dos Deputados, com destacada atuação nas áreas da educação, infraestrutura e de políticas afirmativas de gênero e direitos humanos.
CONCORRÊNCIA
Com o peso político-eleitoral incontestável de Azambuja e a força semelhante de Marquinhos Trad, acrescida da influência da máquina, é certo que a candidatura do prefeito à reeleição entra no tabuleiro com gás diferenciado. Mas não vai correr sozinho, ainda que pesquisas possam no futuro atribuir-lhe favoritismo. Os rivais e suas quase três dezenas de nomes querem entrar na disputa e já começam a abrir caminho.
Para os mais experientes na política local, além de Puccinelli, Zeca e Rose, há outras candidaturas que poderiam tirar a provável tranquilidade no sono de Marquinhos. O promotor de Justiça, Sérgio Harfouche (PSC) e o deputado estadual Coronel David (PSL) estão nesse bloco. Harfouche é um capítulo à parte. Sem estrutura, em palanque modesto e quase solitário, enfrentando esquemas pesadíssimos, foi uma das surpresas das urnas em 2018, quando concorreu ao Senado e teve 292.301 votos. Ficou em sexto lugar no geral, porém foi o mais votado em Campo Grande. Com 163.314 votos bateu 12 concorrentes na capital, entre os quais o senador eleito e ex-prefeito Nelsinho Trad, o ex-governador Zeca do PT, o ex-senador Delcídio Amaral, a senadora eleita Soraia Thronick e o então senador Waldemir Moka.
O PSL, aliás, tem os dois deputados estaduais mais votados de 2018, Capitão Contar e Coronel David, ambos já assumidos como pré-candidatos. Esse bloco vai dar muito trabalho. No PSDB, o primeiro nome é o de Rose Modesto. Entretanto, o partido teria ainda como opções o deputado federal Beto Pereira e o vereador João Rocha (presidente da Câmara Municipal).
No MDB, Puccinelli diz que não pretende entrar na disputa. Com os desgastes políticos e os constrangimentos causados à família por sucessivas denúncias de corrupção, é provável que o ex-prefeito e ex-governador seja carta fora do baralho. Mas o partido, se quiser, pode recorrer a outras lideranças, entre elas a senadora Simone Tebet ou o deputado estadual Márcio Fernandes.
O PDT ficou sem o juiz Odilon, que já deixou o partido, e não pode contar com o deputado estadual Jamílson Name e o vereador Odilon Jr. Restaria então a saída mais utilizada nos últimos anos, o deputado federal Dagoberto Nogueira. O DEM possui hoje dois nomes de peso: os ministros Luiz Henrique Mandetta – que tem laço de parentesco com o prefeito – e Tereza Cristina. Mas ambos estão pendurados politicamente nas garupas de Marquinhos e Azambuja.
No PT, a pré-candidatura de Zeca já faz parte do noticiário, mas o ex-governador ainda prefere submeter a questão às plenárias do partido e pondera ainda que o deputado estadual Pedro Kemp também possui as condições políticas e eleitorais para fazer a disputa. Por sua vez, o vereador Valdir Gomes aparece como segunda ficha do PP, podendo transformar-se na primeira se o ex-prefeito Alcides Bernal não recuperar a tempo sua elegibilidade.
Ricardo Ayache, do PSB, se estivesse disposto, seria um concorrente de considerável peso eleitoral. Disposição é o que não falta a antigos e novos personagens do palco sucessório, entre eles Suel Ferranti (PSTU), Mário Fonseca (PCdoB), a vereadora Enfermeira Cida (Avante), o deputado estadual Lucas Lima (Solidariedade). O nome do dirigente Rafael Roso destaca-se entre as lideranças do Novo, mas é preciso esperar por um desfecho: a direção nacional do partido trouxe um mecanismo inovador na escolha de candidaturas e abriu um processo de seleção para cargos de prefeito em 22 cidades brasileiras. Campo Grande foi incluída nessa espécie de vestibular partidário.