Uma equipe de mastologistas, cirurgiões, enfermeiros, anestesistas e instrumentadores do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), realizou no último dia 16 a primeira mastectomia (cirurgia para retirada das mamas) em um paciente transexual na rede pública de saúde do estado de Mato Grosso do Sul.
A cirurgia foi realizada no tatuador Flamariom Patrízio Diniz, de 25 anos, durou pouco mais de uma hora e foi um sucesso.
“Com o início dos procedimentos de mastectomia vamos começar a diminuir a fila de pacientes que estão aguardando por este tipo de cirurgia, alguns há mais de cinco anos. É um grande momento para o Hospital Universitário, para a saúde pública de Mato Grosso do Sul e para os pacientes trans”, explica o chefe da Unidade Materno Infantil do Humap-UFMS e responsável pelo Ambulatório Transexualizador, o ginecologista Ricardo dos Santos Gomes.
TRANSFORMAÇÃO
Nascido Patrícia Diniz Amorim, o paciente nunca se sentiu uma mulher. “Quando tinha 7 anos me apaixonei por uma professora. Mas não era um sentimento de uma mulher apaixonada por outra mulher. Eu me sentia um homem apaixonado por uma mulher”, conta Flamariom Patrízio, que escolheu esse nome em homenagem ao avô materno.
Com 14 anos ele se relacionou pela primeira vez com uma mulher e começou a estudar os transgêneros. Ele domina o tema, conhece todos os termos médicos e medicamentos.
Em 2015, Flamariom iniciou tratamento psicológico e psiquiátrico e, no ano seguinte, começou o tratamento hormonal em um hospital de Campinas (SP).
“Apesar de me sentir e ser homem, eu sempre gostei dos meus seios. Realizei a cirurgia para retirada da mama apenas para que a sociedade possa me respeitar, para que eu possa andar sem camisa na praia, num parque. Vivenciei um episódio de discriminação que me marcou muito e aí decidi que era hora de fazer a cirurgia”, ressalta.
A mãe de Flamariom, a bancária aposentada Iza Diniz, lembra que o filho sempre foi homem. “Desde pequeno percebi que meu filho era homem. Expliquei que não tinha problema algum se ele gostasse de mulheres. Mas a transexualidade ainda não era algo tão divulgado e estudado. Hoje meu filho e eu realizamos um sonho e estamos muito felizes por ele poder adequar seu corpo ao que ele é em essência”.
HABILITAÇÃO
O Ambulatório Transexualizador do Humap-UFMS realiza atendimentos psicológicos desde janeiro de 2017. Em abril de 2017 começou a oferecer tratamento hormonal.
O Humap-UFMS agora integra a pequena lista de hospitais públicos que realizam o procedimento cirúrgico. Antes apenas hospitais de Goiânia, Porto Alegre, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre estavam aptos.
Os pacientes que desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual são primeiramente acolhidos por assistentes sociais, depois passam por consultas com psicólogos e, posteriormente, iniciam o tratamento hormonal. Em homens trans (que nasceram mulheres) é aplicada testosterona injetável. Já nas mulheres trans (que nasceram homens) é utilizado estrogênio e um antiandrogênico (espironolactona ou ciproterona).
DEMANDA
O Ambulatório Transexualizador vai atender uma demanda em Mato Grosso do Sul que, em 2016, era de aproximadamente 300 transexuais. A ATMS (Associação dos Transexuais de Mato Grosso do Sul) será a maior responsável pelos encaminhamentos.
Qualquer cidadão que procurar o sistema de saúde público apresentando a queixa de incompatibilidade entre o sexo anatômico e o sentimento de pertencimento ao sexo oposto ao do nascimento tem o direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação.