O abuso na reativação dos radares de trânsito em Campo Grande entrou de vez na ordem-do-dia da política. Projetos, declarações e outras iniciativas em áudio e vídeo endossam as reclamações da comunidade, cobram a sensibilidade do poder público e clamam pelos compromissos que o prefeito Marquinhos Trad (PSD) assumiu, sobretudo o de não adotar medidas que tornassem ainda mais precária as já combalidas economias domésticas.
Com essa preocupação, o deputado estadual Jamilson Name (PDT) fez um pedido à Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) para que suspenda a instalação e o funcionamento dos mecanismos eletrônicos, até que sejam feitos estudos técnicos de avaliação sobre sua real necessidade. O deputado propõe envolvimento da sociedade na discussão sobre critérios e localização do aparato, baseando-se inclusive na decisão do governo federal que cancelou a instalação de oito mil radares nas estradas.
“A medida foi adotada para coibir a chamada indústria das multas”, explicou Jamilson. Para ele, a suspensão dos radares é uma providência para fazer justiça e coibir abusos maquiados por mecanismos de fiscalização e monitoramento instalados sem as devidas avaliações. “O que a população reclama é da falta de transparência nos critérios para estabelecer os locais para instalação dos radares”, completou.
Outro deputado estadual, João Henrique Catan (PR), também se bate contra as armadilhas eletrônicas. Há alguns dias, ao descobrir um radar oculto por uma árvore na rua em que circulava, não titubeou. Gravou um vídeo diante do aparelho e foi às redes sociais, com a seguinte apresentação: “Cuidado com o ladrão”. E afirmou, mostrando o aparelho: “Precisamos denunciar esses pardais sem sinalização escondidos pela cidade com o único intuito de arrecadar e roubar nosso dinheiro. Vamos levar esse debate mais uma vez para dentro da Assembleia Legislativa, vamos lutar contra essa indústria das multas”.
Catan continuou: “Acabei de encontrar um bandido, um velhaco, um ladrão. Falta de respeito. Aqui, uma árvore; ao lado dela, protegido, um pilantra, um safado, um patrocinador da indústria. Isso é cuspir na cara da população. Isso tem interesse arrecadatório, não tem interesse educativo. Faça e envie esse vídeo aqui na Avenida Mato Grosso, em frente à entrada do Carandá Bosque. É um absurdo”.
NA CÂMARA
O clamor contra a indústria da multa ecoa ainda com vigor mais acentuado no cotidiano da Câmara Municipal. Praticamente todos os vereadores levantam sua voz em favor da população injuriada. Dr Cury é um deles. Depois de questionar a Agetran sobre a eficácia dos aparelhos, entrou com um projeto de lei proibindo a instalação de novos radares e determinando a retirada dos equipamentos já instalados. “Será que esses radares instalados em diversos pontos da cidade são suficientes para coibir acidentes de trânsito ou os novos equipamentos foram instalados apenas para arrecadar?”, indagou o vereador.
Cury mencionou o radar da Avenida Mato Grosso, em frente ao Hospital da Unimed. “Está escondido entre as folhagens de uma árvore, sem sinalização visível. Fica despercebido pelos condutores que, muitas vezes, no anseio de adentrar ao hospital, tendem a acelerar, como é o caso de ambulâncias ou carros com pacientes em estado grave”, argumentou. E concluiu afiançando que os “equipamentos de multa” não substituem o agente de trânsito e a Polícia Militar.
O vereador Loester Nunes de Oliveira (MDB) é outro que apresentou projeto de lei proibindo a fiscalização de trânsito por meio mecânico, eletrônico, fotográfico, radares portáteis e outros instrumentos de medição de velocidade autônomos. E também dispõe sobre o cancelamento das multas provenientes dos equipamentos e proíbe a geração de novas penas pecuniárias.
Segundo Loester, substituir radares eletrônicos por quebra-molas acaba com a orgia das multas que vem sendo arrecadadas dos condutores. “Sem dúvida, esta é uma indústria de multas. Os condutores devem ser conscientizados e educados sobre a necessidade da segurança no trânsito. A fabulosa receita obtida por meio dos radares eletrônicos prejudica a gerência orçamentária familiar e fica impossível a regularização dos veículos, meios indispensáveis para suas atividades laborais”, justificou.