Emedebistas de todo o País, principalmente os chamados históricos, aqueles que participaram das lutas antológicas contra a ditadura militar e abriram caminho para a democracia e a política decente, estão chorando a saudade de um tempo que parece não voltar mais e amargando a vergonha de conviver com filiados envolvidos com a corrupção e a mentira. A realidade é dolorosa, especialmente depois que na quinta-feira passada, 21, uma força-tarefa da Lava Jato prendeu no Rio de Janeiro o ex-presidente da República, Michel Temer, e o ex-governador e ex-ministro Moreira Franco.
Temer e Franco eram dois dos maiores nomes do partido, notadamente nos últimos 20 anos. Nesse período, Temer presidiu a Câmara dos Deputados, foi vice-presidente da República duas vezes e em uma completou como titular o mandato que era de Dilma Rousseff (PT). Personalidades inesquecíveis e respeitáveis da trajetória épica do MDB, como Ulysses Guimarães, devem estar revirando-se no túmulo diante de tanto vexame e indignação que seus correligionários impõe ao povo brasileiro.
A ação da Lava Jato contra Temer e Franco indica que o pente-fino contra a corrupção vai continuar e que o MDB é um dos alvos da vez. Filiados de todo o País sabem que vários de seus líderes estão envolvidos até o pescoço com esquemas de assalto aos cofres públicos e o crime organizado. Os dias de impunidade estão aos poucos ficando no passado, para desespero de emedebistas de todas as graduações.
Ex-governadores presos, condenados, com pendências judiciais ou já sob rito processual avançado, não devem dormir direto. Um deles é o de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que só deixou a prisão por força de liminar. Ele é citado como líder de uma organização criminosa que afanou – segundo cálculos atualizados parcialmente – mais de R$ 500 milhões em operações fraudulentas para desviar recursos do Estado. Alguns de seus cúmplices permanecem presos, entre os quais o já condenado Edson Giroto e o empresário João Amorim.
FOLHA CORRIDA
Segundo ex-presidente a ser preso sob a acusação de corrupção – o primeiro foi Lula, que cumpre sentença em Curitiba -, Michel Temer atua com práticas criminosas no poder há cerca de 40 anos, segundo a Polícia Federal. Mas as suspeitas mais fortes começaram a recair sobe ele desde a época em que era presidente. Ele foi alvo de duas denúncias, que não foram levadas adiante, apesar de tentativas de deputados da oposição de autorizar as investigações.
Hoje, responde a 10 inquéritos na Justiça. Cinco deles tramitavam no Supremo Tribunal Federal (STF), abertos quando ele era presidente da República, devido ao foro privilegiado. Um dos escândalos que envolveram o presidente Temer e que o colocou sob risco de impeachment tinha relação com a gravação de uma conversa com o executivo da JBS Joesley Batista.
Na conversa, Temer disse uma frase que se tornou notória: “Tem que manter isso, viu?”. A frase foi dita quando os dois comentavam a proximidade de Batista com o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o pagamento de benesses do empresário ao principal responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).
A mais pesada acusação liga o ex-mandatário emedebista a um arranjo criminoso de propinas para favorecer algumas empresas na edição das de novas normas portuárias. Das cinco novas apurações abertas, três têm a Argeplan Arquitetura e Engenharia como peça central. A PGR sustenta que a empresa, que aparece na denúncia dos portos como intermediária de propina e que tem como um de seus sócios o coronel João Baptista Lima Filho, pertence de fato a Temer.
O MDB reagiu à prisão de seus dois filiados. O partido emitiu nota criticando a atuação da Justiça na prisão dos dois políticos. Diz o texto: “O MDB lamenta a postura açodada da Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há irregularidade por parte do ex-presidente da República, Michel Temer, e do ex-ministro Moreira Franco. O MDB espera que a Justiça restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito de defesa”.
O QUINTO
A lista de ex-governadores do Rio de Janeiro presos cresceu com a prisão de Moreira Franco. Ele era o único ex-governador eleito do Rio, ainda vivo, que não tinha sido preso. Benedita da Silva também não foi presa, mas no caso dela, não foi eleita. Ela era vice e substituiu Anthony Garotinho, quando ele foi concorrer à presidência. Na lista dos presos ou que já foram presos estão: Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral (atualmente no cárcere); e o casal Rosinha e Anthony Garotinho (em liberdade).