Os fatos falam mais e melhor que os números, porque são visíveis e estão à vista de quem quiser conferir. A péssima gestão do sistema público de saúde pôs os pacientes do SUS em Campo Grande na situação mais cruel e deprimente nos 42 anos de história desde que se tornou capital de Mato Grosso do Sul. O prefeito Marquinhos Trad (PSD) e sua equipe não demonstraram até agora, em dois anos e dois meses de governo, que têm capacidade para revolucionar a política de saúde e dar às pessoas um atendimento digno e qualificado.
Esta foi a mais repetida promessa de campanha do candidato Marquinhos Trad, renovada com ênfase no primeiro dia do mandato. Hoje, faltando menos de dois anos para entregar o cargo, o prefeito se vê às voltas com a dura realidade de uma promessa esvaziada: não revolucionou coisa alguma e ainda conseguiu deixar o cenário ainda pior do que encontrou em 2017, depois da desastrosa administração de Alcides Bernal e Gilmar Olarte.
A epidemia de dengue não é novidade. Já havia sido registrada em praticamente todas as administrações nos últimos 20 anos. Agora, entretanto, era de se esperar que essas experiências fossem aproveitadas para corrigir erros anteriores e aprimorar os mecanismos estruturais de prevenção e combate. No entanto, a doença adquiriu novos espaços para retornar, aproveitando falhas do poder público e vazios na vigilância da comunidade. Ao menos uma morte está contabilizada este ano, com mais de 10 mil casos notificados em menos de três meses.
Para reagir à onda gigantesca de denúncias e ao generalizado descontentamento da população, o prefeito Marquinhos Trad faz a sua cena impressionista visitando as unidades de saúde, conversando com os servidores e pacientes, procurando saber como está o atendimento e o que falta, pedindo sugestões e garantindo estar tomando todas as providências. Mas nem assim consegue evitar que o caos do setor se manifeste em suas variadas formas.
Numa cidade com quase 900 mil moradores e aproximando-se do seu primeiro milhão, as estruturas logística, tecnológica, física e profissional (recursos humanos) não são compatíveis com esse tamanho. Mesmo contratando mais 81 médicos e colocando em operação permanente todas as unidades, a Prefeitura está atrasada na cobertura da demanda. E o que acontece é um cenário de desolação, inconformismo e ânimos à flor da pele, fazendo eclodir agressões verbais e físicas entre pacientes e servidores, os dois lados que não têm culpa em tudo isso.