Tecnologia e inovação não são o único enfoque das pesquisas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) que serão apresentadas na edição 2019 da Feira Brasileira de Ciência e Engenharias (Febrace). Estudantes dos cursos técnicos também têm interesse em temas como inclusão, preconceito e tradição de culturas.
Um dos projetos é de Corumbá e aborda a questão do movimento migratório. Laísa Monteiro, Narjara Aréco e Marcelo Arruda – todos com 16 anos e estudantes do curso técnico em Informática -, apresentarão a pesquisa ‘Em Questão: português como língua de acolhimento para refugiados em contexto corumbaense’.
Entre julho de 2017 e junho de 2018, a Polícia Federal registrou a entrada de quase 80 mil migrantes em Corumbá. A presença de pessoas das mais variadas nacionalidades sempre foi notada pelos estudantes, que resolveram estudar uma forma de acolhimento aos refugiados.
“Muitas ações sociais ocorrem para o acolhimento deles, mas em nenhuma a opinião dos refugiados é levada em consideração, já que eles não têm o domínio da língua portuguesa. O projeto nasceu com o intuito de dar voz a esse indivíduo para que ele seja inserido na sociedade que o acolheu”, explicou Laísa.
Sob orientação dos professores José Augusto Rabelo e Renilce Barbosa, o projeto busca, futuramente, oferecer aulas de língua portuguesa a refugiados.
Os alunos envolvidos já participaram de audiências públicas sobre o tema e realizaram, durante a Semana de Ciência e Tecnologia do IFMS no ano passado, um minicurso voltado a outros estudantes. Por meio de dinâmicas, os participantes vivenciaram a experiência de estar num lugar novo sem o domínio da língua corrente.
O plano de trabalho do projeto prevê ainda a realização do workshop ‘Migração e refúgio: uma discussão necessária’. O evento será aberto ao público e pretende discutir os motivos que levam Corumbá a ser uma das principais rotas de passagem dos refugiados no Brasil.
Para Laísa, falar sobre inclusão é reviver a história de Corumbá. “A cidade sempre foi marcada por fluxos migratórios intensos. Outro fator é que o município se encontra em área de fronteira seca com o território boliviano e na tríplice fronteira com Paraguai e Bolívia, recebendo migrantes de diferentes nacionalidades. A inclusão é um debate fundamental, já que migrantes e refugiados compõe a população corumbaense”.
PRECONCEITO NO DICIONÁRIO
Outro tema que o IFMS levará à Febrace é o preconceito na língua portuguesa. As estudantes do curso técnico em Informática de Aquidauana, Roseana Sales e Victória Pael, ambas com 16 anos, irão apresentar o trabalho ‘Léxico e preconceito: uma análise da linguagem utilizada em dicionários e em páginas web para designar os excluídos’.
Atentas à questão da exclusão social, as colegas de turma resolveram analisar quem são os excluídos e como eles são tratados em dicionários e páginas da internet. A orientação é dos professores Pablo de Queiroz e Juvenal Cezarino.
“Inicialmente, a pesquisa analisa de formas semântica e histórica a acepção da palavra mulher, construída de forma inadequada ao longo dos anos. Investigamos a definição desse gênero em dicionários antigos, contemporâneos e eletrônicos”, detalhou Victória.
A estudante explica que o estudo também se baseia no léxico, ou seja, no vocabulário. “Pretendemos levar esse conhecimento a estudantes da rede pública e mostrar que o preconceito também se acomoda na linguagem de uma forma oculta”, pontuou.
Resultados preliminares mostram que muitas acepções distorcem a imagem da mulher. “Foram investigados dicionários do século XVII em diante, porém iremos analisar mais a fundo, tendo como ponto final a não perpetuação desse preconceito. Temos em mente analisar outras palavras, como gordo e negro, por exemplo”, explicou a estudante.
OUTROS PROJETOS
Estudantes e professores do IFMS levarão, ao todo, 14 projetos à edição 2019 da Febrace. Quatro deles apresentam soluções web em diversas áreas.
As outras pesquisas tratam sobre temas como alimentos, potencial antibiótico de insetos, armazenamento de soja e paisagismo.
Essa será a oitava participação do IFMS no evento, que é organizado pela Universidade de São Paulo (USP), e que este ano será realizado entre os dias 19 e 21 de março, na capital paulista.
FEBRACE
A mostra brasileira de projetos pré-universitários reúne trabalhos de estudantes dos ensinos fundamental, médio e técnico de escolas públicas e privadas de todo o país.
O evento é realizado desde 2003 pela Escola Politécnica da USP, com objetivo de aproximar estudantes de nível médio da realidade das universidades, estimulando a pesquisa científica.
Além de premiar os melhores projetos, a Febrace credencia trabalhos para participação em eventos internacionais, como a Intel ISEF (Feira Internacional de Ciências e Engenharia), realizada anualmente nos Estados Unidos.