Deflagrada pela Polícia Federal, com apoio do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público, a Operação Fantoche começou na terça-feira (19) a desmontar uma rede de desvio de recursos públicos montada no âmbito das atividades espraiadas à sombra da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nessa rede está todo o chamado Sistema S, que engloba nove instituições prestadoras de cursos e programas de formação profissional, como o Sesi, Sesc, Senar, Senac e Sebrae.
Unidades do Sistema em Mato Grosso do Sul (Sesi e Casa da Indústria), assim como a residência e o gabinete do presidente da Federação das Indústrias (Fiems), Sérgio Longen, estavam na lista dos 47 mandados de busca expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Pernambuco. Longen é vice de Robson Andrade, presidente da CNI.
Além de sofrer buscas e apreensões nos imóveis que utilizava ou utiliza, Sérgio Longen teve quebrado seu sigilo bancário e os bens bloqueados, por determinação do juiz federal César Arthur Cavalcanti de Carvalho, da 4ª Vara Federal de Recife. A medida atingiu Longen e mais 34 pessoas físicas e jurídicas sob suspeita da Polícia Federal.
A investigação mira convênios de entidades privadas com o Sistema S, cuja receita é vitaminada por verbas públicas. Ao todo, 213 agentes e oito auditores do TCU cumpriram os mandados nos estados de Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Alagoas e Distrito Federal.
Dos 10 presos, seis foram soltos na terça: os presidentes da CNI, Robson Braga de Andrade; da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger; da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep), Francisco de Assis Benevides Gadelha, o Buega, um dos vice-presidentes da Confederação; da Federação das Indústrias de Alagoas (Fiea), José Carlos Lyra de Andrade; e ainda Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, empresária e publicitária, ligada à Aliança Comunicação; e Hebron Costa Cruz de Oliveira, advogado e presidente do Instituto Origami.
Lina Rosa foi liberada após audiência de custódia, com a aplicação de medidas cautelares. Segundo a Justiça Federal em Pernambuco, os outros cinco presos foram soltos porque já foram ouvidos pela PF e não havia mais diligências a serem feitas. Eles precisam cumprir medidas cautelares como afastamento das funções de dirigentes das entidades onde trabalham.
Os outros quatro tiveram a prisão temporária decretada, com prazo de cinco dias, e foram levados para o Centro de Observação e Triagem Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. São eles: Luiz Otávio Gomes Vieira da Silva, empresário e um dos donos da Aliança Comunicação (ele já havia sido preso em 2013, pela PF, na Operação Esopo); Álvares Pimentel Junior, sócio da empresa Neves e Silva Produção; Júlio Ricardo Rodrigues Neves, sócio da Idea Locação de Estruturas e Iluminação; e Luiz Antônio Gomes Vieira da Silva, sócio da Aliança Comunicação.
FAMÍLIA FAMINTA
A investigação aponta que um grupo de empresas, sob controle de uma mesma família, vem executando contratos desde 2002 por meio de convênios com o Ministério do Turismo e o Sesi. Foram movimentados mais de R$ 400 milhões com esses contratos. O delegado federal Renato Madsen, da PF, afirmou que os alvos da Operação Fantoche são investigados pela criação de empresas de fachada. Segundo ele, os empresários teriam criado empresas sem fins lucrativos para dificultar a investigação do Tribunal de Contas da União (TCU).
O rastreamento das trambicagens começou em 2014, a partir de uma empresa que recebia parte dos recursos para eventos culturais com valores superfaturados. A polícia também identificou que o dinheiro não era destinado totalmente a produções culturais. Um dos eventos foi o Festival Bonecos do Mundo, realizado pelo Sesi e idealizado por Lina Rosa Gomes. Esse foi o motivo para o nome da operação. Os irmãos Lina Rosa, Luiz Otávio e Luiz Antônio Gomes Vieira da Silva são sócios da Aliança Comunicação. Segundo o advogado Ademar Rigueira, que os representa, a defesa acha “estranho” o pedido de prisão. Ele disse que vai provar que não houve ilegalidade nas ações.
De acordo com a investigação, a Aliança é a principal empresa beneficiada com os supostos desvios e teria celebrado vários contratos com o Sesi para desenvolver uma série de projetos culturais, como o Cine Sesi Cultural, o mais antigo em execução (desde 2002), Na Ponta da Língua e o Projeto Relix. Mais de 10 projetos estão sendo investigados.