Já se foi o tempo em que escolher integrantes da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa era um processo marcado por disputas nas quais acontecia de quase tudo. De “sequestros” de deputados a cartas de apoio rasgadas na véspera, de desistências dramáticas a traições de última hora, bater chapa nestas eleições era um exercício de lances interessantes, pitorescos, até folclóricos – porém, sempre encerrando em seu conteúdo um interesse altamente estratégico: a estabilidade político-administrativa do Governo.
Havia, de fato, um certo glamour. Mas a partir da segunda metade dos anos 1980 o panorama da disputa mudou. As eleições da Mesa passaram a ser construídas mediante um arrastado, mas resolutivo, processo de consenso.
A concorrência se mantém, acirrada, porém desenrola-se nos bastidores e não tem chegado ao plenário no dia da votação, sobretudo quando há maioria folgada de uma base partidária ou política e nela se estabelece uma solução consensual.
Hoje, para a formação da próxima Mesa, as duas possibilidades – a da disputa e a do entendimento – estão acesas. Se há dificuldades para o consenso, também há para quem pensa em disputar.
Contudo, se prevalecerem a compreensão e a lógica em torno da realidade, dos desafios e dos maiores interesses de Mato Grosso do Sul, o caminho a ser tomado é o do consenso.
Que se entenda e se assimile bem esta análise. Não se trata de um consenso estanque, limitado aos impactos do ambiente corporativo, mas a tudo o que envolve as responsabilidades destas 24 pessoas eleitas para, em síntese, fazer do Legislativo uma ferramenta determinante para promover o desenvolvimento estadual.
Se o Estado atravessou um período de crise aguda é porque teve, entre os fatores fundamentais da superação, o lastro da parceria institucional e política entre os poderes, sem dano algum às específicas autonomias. Seguir enfrentando a crise e ter os meios para superá-la continuam sendo as palavras-de-ordem dos agentes públicos, em especial os que foram eleitos pelo povo para cumpri-las.
Se o governo, que conduziu com sucesso este ciclo de superação, tem folgada maioria no Parlamento e se nesta bancada há pessoas capacitadas para conduzi-lo, que seja respeitada a opção por quem tiver o perfil ajustado à essa realidade. Que cada um faça sua autocrítica, avalie o peso real de suas chances e, se tiver grandeza de entender as conjunturas pessoal e geral, que passe a bola ao craque da vez. Ele vai precisar do gesto altruísta e de inegável comprometimento com o interesse público, o interesse de Mato Grosso do Sul.
Eleição de Mesa Diretora do Legislativo é tão importante quanto a eleição de cada um de seus titulares. Com uma diferença: se o entendimento fracassar e os remos do barco estiverem patinando nas águas do individualismo, o representante do povo e que a ele é leal não pode permitir que esse mesmo povo pague a conta de um novo naufrágio. Já basta o que quase tirou a governabilidade desta gestão.
GERALDO SILVA