Até poucos dias antes de a população ir às urnas em Mato Grosso do Sul quantas pessoas conheciam Soraia Thronicke? Quantos eleitores sabiam da existência de um tal Tio Trutis? E o Capitão Contar? Que instrumento ele tocava além de ser casado com uma publicitária e seguir em passos prodigiosos na carreira militar?
Pois bem: esse trio se saiu muitíssimo bem estreando no teste das urnas. Soraia foi eleita senadora, Trutis deputado federal e Contar o deputado estadual mais votado, com recorde de sufrágios. Praticamente, os três não eram presenças carimbadas nas concentrações e até mesmo nas matérias da imprensa. O trunfo foi mesmo a visibilidade amazônica que tiveram como protagonistas das redes sociais, com destaque central para o aplicativo criado por Mark Zuckerberg em 2004, o Facebook.
Não era tão difícil prever que os tradicionais meios de comunicação e o tempo de propaganda eleitoral gratuita compartilhassem os espaços de influência com a Internet. Mas era muito difícil imaginar que a influência das redes sociais no imaginário e nas escolhas do eleitorado fosse tão avassaladora, ampla e extremamente convincente.
Na campanha eleitoral, justiça seja feita ao esquema montado pelo presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. Ele está praticamente a um passo do Palácio do Planalto. E a sua grande sacada foi operar, com tática castrense – tem suporte de militares das Forças Armadas – o poder de manipulação das redes. Foi cirúrgico. Fez uma campanha massacrante. E soube tirar proveito.
No primeiro turno não se elegeu presidente, mas deixou tudo mais fácil para o segundo. Com seu nome e os vínculos que construiu dentro e fora do partido, ajudou a decidir as mais importantes eleições estaduais. Além de fazer a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, Bolsonaro ainda teve, com seu nome, o triunfo de vários desconhecidos que ou conquistaram o governo ou chegaram ao segundo turno. E foi ele também a inspiração para criar Brasil afora fenômenos como Soraia, Trutis e Contar.
Uma publicação recente revela que os especialistas em pesquisas de opinião pública e comportamento atestam que o ambiente virtual teve uma influência grande na eleição de Donald Trump em 2016. “A forma como grupos que o apoiavam usaram as mídias sociais beneficiou o candidato. Grupos de extrema direita, que representavam 11% dos seguidores do então candidato, foram responsáveis por cerca de 60% dos retweets para ele durante o período eleitoral. A tendência se seguiu em outros países – na campanha do Brexit, nas eleições da Alemanha e da França, entre outros. No Brasil, a situação não é diferente. O sucesso do candidato Jair Bolsonaro é, em parte, explicado pelo seu alcance nas mídias sociais e o apoio de grupos que o capitalizam”.
GERALDO SILVA