A “Ilíada”, obra imortal de Homero, descreve o engenhoso estratagema urdido por estrategistas gregos para entrar na cidade fortificada de Tróia e derrotar seu poderosíssimo exército. Além da armadilha sedutora, ilustrada no presente de um gigantesco cavalo para agradar os troianos – com soldados armados em seu interior -, os gregos também tiveram o cuidado de estimular entre os inimigos o consumo de bebidas alcoólicas para comemorar o regalo.
O final da história todos já sabem. Os gregos saíram de dentro do cavalo durante a madrugada e liquidaram os bêbados e sonolentos soldados de Tróia. Esse ardil da Grécia antiga serve de modelo para ações de sabotagem e ataques de surpresa em diferentes situações e épocas, desde a antiguidade até hoje.
No meio da semana um desses “cavalos”, aparentemente moderno, mas habituado na prática de velhacarias, tentou nova investida de desembarque em Mato Grosso do Sul. Os donos do Grupo J&F, que na esperança de ganharem alívios extraordinários da pena criminal resolveram fazer da deduragem uma mercadoria de barganha, voltaram a servir de instrumentos para justificar espetaculosa ação policial dirigida contra o governador, seus familiares, assessores e amigos.
A delação dos donos da J&F/JBS nada trouxe efetivamente de concreto para justificar as midiáticas cenas exibidas pela tevê para todo o País.
Ninguém está acima da lei. E ninguém, da mesma forma, pode ser condenado ou tratado como marginal sem que tenha exercido seu pleno direito à defesa e, mais ainda, sem que tenha sido submetido a julgamento e condenado com sentença transitada em julgado.
O governador Reinaldo Azambuja sequer está sendo processado. Desde o primeiro momento em que teve seu nome citado pelos delatores ele procurou, espontaneamente, dar as informações pertinentes. Com todos os documentos e demonstrativos administrativos, jurídicos, políticos, pessoais. Chamou para si toda e qualquer apuração pelos órgãos de controle e de fiscalização. Não procurou em instante algum esconder-se do debate e das cobranças que eventualmente surgiram.
A história deveria estar encerrada a partir do dia em que as delações da irmandade criminosa caíram por terra, esvaziadas por sua própria inconsistência, neutralizadas em sua origem de má-fé, assentadas num interesse oculto e criminoso, que era o de garantir aos poderosos empresários da holding dos frigoríficos as mamatas que engordavam seus lucros e abasteciam os esquemas criminosos de influência no poder.
O “cavalo de Tróia” da J&F bem que tentou. Mas é manco. E tem dentro de si não um exército, mas uma dupla de soldados perdidos e trapalhões, sem credibilidade, destituídos de elementos que ao menos pudessem garantir a ambos um mínimo de fé pública. Galope frouxo. Montaria pesada. Cavaleiros de araque.
GERALDO SILVA