A Lama Asfáltica, maior operação contra a corrupção em Mato Grosso do Sul, foi desencadeada há três anos, mas as investigações tiveram início em 2013. Até hoje contabiliza cinco desdobramentos e dezenas de alvos sob investigações que apuram desvios de verbas públicas que ainda não foram calculados com exatidão, mas podem passar dos R$ 2 bilhões. A prisão na sexta-feira (20) do ex-governador André Puccinelli, de seu filho André Jr e um advogado é mais uma das consequências dessa operação, colocou dezenas de pessoas do chamado grupo andrezista sob suspeita.
Ao todo, agora são 11 presos, sendo quatro mulheres. Elza Cristina Araújo dos Santos, Raquel Rosana Giroto, Mariane Mariano de Oliveira e Ana Paula Amorim estão em regime de prisão domiciliar desde oito de maio em endereços nas regiões nobres da cidade, como o Jardim dos Estados e residenciais de luxo.
Também estão presos outros integrantes influentes da organização liderada por Puccinelli, como o ex-deputado federal Edson Giroto (PR), o empresário João Amorim, o ex-presidente da Agência de Empreendimentos (Agesul), o servidor estadual Wilson Roberto Mariano de Oliveira e o empresário Flávio Henrique Scrocchio (cunhado de Giroto).
Há mais gente envolvida no esquema, inclusive passando pelas humilhantes experiências da prisão e do bloqueio de bens. O empresário Mirched Jaffar, dono da Gráfica e Editora Alvorada, e o ex-secretário André Cance, que chefiou a Pasta da Fazenda no governo de André Puccinelli, também foram submetidos às fichas de investigação das forças-tarefa da Lama Asfáltica.
Em março deste ano, foi preso e solto após oito dias o ex-fiscal de obras da Agesul, Wilson Roberto Mariano. Ex-prefeito de Paranaíba e conhecido como Beto Mariano, ele e outras três pessoas tiveram R$ 3,6 milhões em bens bloqueados. A decisão atendeu uma ação ingressada pelo Ministério Público Estadual. A inicial apontava suposto enriquecimento ilícito, com considerável evolução patrimonial incompatível e possivelmente atrelada ao conteúdo apurado pela Operação Lama Asfáltica.
ALVORECER
Em maio passado, sete dias após sua prisão, Mirched Jaffar Júnior deixava o Centro de Triagem Anísio Teixeira, no Complexo Penal de Campo Grande. O dono da Gráfica Alvorada havia sido preso por policiais federais, passou dois dias na carceragem da PF e foi transferido para o Centro de Triagem. Para pedir a prisão de Jaffar, o MPF utilizou a transcrição de escutas telefônicas de 2014 que dão indícios de que o empresário, André Cance, ex-secretário-adjunto de Estado de Fazenda, e Puccinelli falavam sobre propina.
Ficou famoso um diálogo entre Cance e Puccinelli, quando o governador fez a referência aos negócios com a Gráfica Alvorada empregando o verbo “alvorecer”. No dia 22 de dezembro de 2014, a PF tinha interceptado a ligação na qual o líder emedebista dizia que precisa falar com o então secretário-adjunto de Fazenda para “que amanhã tenha uma boa alvorada, um bom alvorecer”.
Com Giroto, os planos de Puccinelli incluíam protagonismos políticos de alto relevo. A primeira iniciativa foi a empreitada vitoriosa que culminou em sua eleição de deputado federal em 2010. Dois anos depois Puccinelli tentou emplacá-lo na disputa municipal para suceder o prefeito Nelsinho Trad. A candidatura de Giroto, mesmo sem unanimidade das bases emedebistas, foi imposta pelo então governador. Chegou a passar pelo primeiro turno, mas sucumbiu no segundo turno, quando perdeu para Alcides Bernal.
Nos anos seguintes, com os avanços das investigações e a deflagração da Lama Asfáltica, o mundo de Giroto e demais integrantes do esquema andrezista começou a ruir. De poderoso secretário de Obras, deputado federal e “quase” prefeito, tornou-se mais um alvo do Gaeco (Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado), foi preso sob algemas e teve bens bloqueados.