Qualquer pessoa deste Brasil brasileiro sabe o que significa a expressão “canto da sereia”. Até as crianças aprendem cedo, em casa, com os ensinamentos dos pais ou dos irmãos mais velhos, que é possível prevenir-se contra alguns dissabores da vida.
É óbvio que não existe prevenção a tudo, porque há situações imprevisíveis e a própria vida impõe-nos a necessidade natural de arriscar-se em desafios essenciais ao crescimento humano, intelectual, moral, conceitual, comportamental. Viver implica fazer escolhas, que nem sempre respondem às expectativas de êxito.
Para alcançar a mais ampla margem de acerto nas escolhas, recomenda-se as lições básicas de lógicas vitoriosas: armar-se de equilíbrio, dosar a carga adequada de bom-senso, aprofundar os conhecimentos, agarrar-se à inteligência e a coragem para decidir. Enfim, é fiar-se nos ensinamentos da mamãe, do papai e dos avós, que podem estar resumidos em outra máxima popular reforçando o alerta sobre o “canto da sereia”: nem tudo que reluz é ouro.
A reflexão é sugestiva e oportuna num instante de séria decisão, esta que os eleitores deverão tomar em outubro para definir quem serão seus representantes nos poderes Executivo e Legislativo. Esta é a época em que as sereias cantam, invadindo todo e qualquer ouvido humano, dispostas a seduzir e a arrastar para o fundo do mar os incautos, aqueles que não se previnem, aqueles que vão fazer suas escolhas indo às urnas sem dar a mínima aos conselhos preventivos dos pais e dos mais velhos.
A construção de modelos saudáveis e confiáveis nos mandatos eletivos exige comportamentos bem definidos e comprometidos, tanto do candidato como daquele que o adota como opção. E esta escolha, que é um risco, pode ter sua margem de erro reduzida ao máximo se o eleitor estiver prevenido e vacinado contra o canto da sereia. Não tapando os ouvidos, mas deixando-os bem abertos, como bem abertos devem ser seus olhos, sua atenção, sua inteligência e seu discernimento para não permitir que a melodiosa sedução o transforme em mais uma vítima das escolhas mal feitas.
Não se pode menosprezar o poder arrebatador desta canção e do brilho luzidio da pirita. As sereias estão cantando e a canção é sedutora. Porém, ao mesmo tempo, é ardilosa, traiçoeira, letal. O voto é uma arma e os eleitores precisam usá-lo a seu favor. Por isso, todo cuidado com a pirita – o ouro de tolo também brilha, mas é um brilho mequetrefe.
GERALDO SILVA