Duas unidades federativas, um Estado e um Município, atravessaram sucessivos anos de quase absoluto caos administrativo e financeiro. As coisas só não foram piores e mais trágicas porque o Estado, Mato Grosso do Sul, e o Município, Campo Grande, têm uma população altiva, empreendedora, digna e decidida. Uma população que assina hoje mais uma página de superação em sua história.
Os anos de desmandos que as unidades federativas sofreram, com gravíssimos e inconcebíveis danos à sociedade, ocorreram durante períodos em que foram governadas por pessoas que haviam concentrado as maiores e mais antigas esperanças de renovação de práticas políticas, de administrações eficientes e honradas, de tratamento republicano com a coisa pública e de zelo ético.
Nada disso aconteceu. Foram tempos amargos de desgoverno, de sonhos rejeitados e esperanças reprimidas; tempos em que o privado se apoderou do público para sangrar as finanças e abrir imensos drenos no Tesouro, submetendo o contribuinte ao mais volumoso butim que já se teve notícia.
O Estado afundou no mar de lama, incompetência e apropriações indébitas que – segundo a Justiça, a Polícia e os organismos de controle e fiscalização -, durante oito anos fez a afortunada realização patrimonial e financeira de uns poucos e condenou a maioria do povo a uma prolongada novela de privações.
A marca que ficou do “rei das obras” André Puccinelli foi o cenário patético e deplorável de um desgoverno que deixou ao seu sucessor um Estado ingovernável e desgovernado com dívidas monumentais, compromissos traídos, obras inacabadas, licitações fraudulentas, aspirações populares represadas, desperdício de verba pública (só o inconcluso Aquário do Pantanal, projetado por R$ 80 milhões, já engoliu mais de R$ 250 milhões) e até grosseiras barbeiragens de engenharia, como as pontes que nem esperaram passar a primeira estação e começaram a ruir.
Estes oito anos de André Puccinelli foram gravados tão dolorosamente na pele e na confiança do povo como dolorosas foram as feridas abertas por outro desgoverno, o da dupla Alcides Bernal e Gilmar Olarte em Campo Grande. A cidade não viu uma única obra de dimensão proporcional à sua grandeza humana, econômica, urbana e geográfica.
Em quatro anos uma das capitais mais belas, limpas e progressistas do País caiu no conceito nacional. Passou a ser a cidade da buraqueira e do lixo acumulado nas ruas e terrenos baldios; a cidade do retorno das favelas, da ausência de acessibilidade e mobilidade urbanas; a cidade que atendia mal e precariamente as crianças dos Ceinfs, os estudantes da rede pública, os doentes nos postos de saúde e tinha uma administração que não valorizava seus próprios servidores. Foram quatro anos de uma Campo Grande apequenada pelo desgoverno.
O mais grave é que as duas unidades, Estado e Município, tornaram-se nesses períodos pautas futuras para as editorias de polícia e de escândalos na política, com seus gestores deixando rastros de irregularidades que, pouco a pouco, justificaram operações de combate à corrupção.
Felizmente, Estado e Município capricharam nas escolhas e escolheram gestores que fazem possível o desejo geral de sepultar o passado. A história que passou a ser escrita é outra, bem diferente. Dá bons exemplos. E merece ser contada fora desta ciranda de trambiques que, com certeza, será evitada pelos eleitores nas próximas eleições.
GERALDO SILVA